É preciso valorizar as devoções e a piedade popular

Pe. Emiliano Soares


Ao longo da história do cristianismo das mais diversas formas as pessoas tem expressado a sua fé em Deus e sua pertença a Igreja, por inúmeras vezes frente a impossibilidade de acesso aos sacramentos, uma catequese doutrinal e ao que atualmente chamamos de uma formação pastoral. A priori podemos comparar este cenário a uma autêntica “Peregrinação” em busca de uma estreita relação com sagrado através de manifestações exteriores, construídas pela tradição e culturas locais.
Diante as inúmeras situações pastorais urgi a construção de uma afirmação e uma teológica destas valorosas e grandiosas experiências e vivências de uma fé verdadeira, forte e pura. Essas são práticas que encontram amparo na eclesiologia do Papa Francisco  que busca a recuperação da importância da centralidade da pessoa, ensinamento bimilenar da Doutrina Social da Igreja; o estímulo à “saída” das sacristias e templos em direção ao mundo e ao ser humano, na alegria missionária, como provocação para uma Igreja missionária e voltada pra o outro; a pobreza, sinal inequívoco do seguimento de Cristo na atenção aos mais necessitados e como forma de valorização do essencial, em respeito ao outro e à natureza; a alegria, sinal do advento do Reino entre aqueles que vivem a fraternidade.
As devoções populares se encontram não só na eclesiologia do Papa Francisco, mas principalmente nas suas práticas cotidianas, como descreve o jornalista italiano Alessandro:
“O Papa caminha sozinho, com passo lento e cansado, em uma rua central de Roma para ir à igreja de São Marcelo al Corso, onde está conservado um Crucifixo de madeira do século XIV, considerado milagroso por gerações de romanos. Ninguém o espera nas ruas ou o cumprimenta no caminho, apenas alguns agentes da Gendarmaria vaticana o acompanham. Uma “procissão” solitária com uma extraordinária força simbólica. Passam alguns dias. O Papa à noite, sob um céu de chumbo, reza em uma Praça de São Pedro vazia: a pequena figura branca se destaca em um espaço que parece surreal. Com ele, somente aquele Crucifixo que tinha venerado alguns dias antes e o ícone mariano Salus Populi Romani, que acompanha a vida do povo da cidade há séculos. Entre as imagens que nos são dadas neste período dramático que estamos vivendo por causa da pandemia, estas duas certamente permanecerão gravados na memória de milhões de pessoas”
Em meio a realidade de crise eclesial: redução do número de fiéis, conflitos midiáticos, fakenews, conflitos de gerações e algumas incompreensões eclesiásticas e pastorais é emergente a atualização do pensamento do São Paulo VI na Exortação Apostólica  Evangelii nuntiandi -  “a piedade popular manifesta uma sede de Deus que só os simples e os pobres podem conhecer”
As devoções e as piedades popular ocupam um lugar central na caminhada do povo e precisam ser valorizadas, amadas, incentivadas e acompanhadas. Elas são o fermento na massa.