TEMPO SECO

A água que corre para o mar
Tem chovido com alguma frequência, nas últimas semanas. Para muitos é bom, para outros é insuportável e para os restantes é indiferente. E, é nestes últimos que recaiu uma estranha amnésia de curto espaço, que apagou dos seus limitados cérebros, os efeitos das alterações climáticas e alguns procedimentos, de forma a minimizar as sua consequências.
O ano transato, não deferiu muito deste: houve algumas semanas de chuva no outono, mas o inverno foi bem seco, e a primavera quase floriu em janeiro. Mas, não só estes dois anos, foram de calor extremo e secas severas, como também os outros e os outros… que lhes antecederam, e foram idênticos.
A água que hoje corre para o mar, vai-nos fazer muita falta amanhã! As águas retidas nas albufeiras das barragens, não servem só para a produção de energia elétrica. Mesmo que fosse essa a sua única utilidade, ainda assim, não deixava de ser um investimento de valor acrescentado: ainda estamos muito longe da nossa autossuficiência energética descarbonizada. E, pelo andar da carruagem, parece nunca ir acontecer, mesmo que o “nunca” se situe, lá para o final deste século.
A barragem de Girabolhos, que um qualquer governo - e nem interessa qual - resolveu construir no Rio Mondego, teria uma utilidade pública de grande valia. A começar pelo aumento da nossa capacidade hidroelétrica. Pelo contributo na regularização das cheias no Baixo Mondego. Pelo abastecimento de aeronaves no combate aos incêndios, cujas ignições são tão frequentes, como danosas, na área de influência da sua implantação. E, principalmente para aumento da capacidade de retenção das águas pluviais, provenientes do seu imensurável escoamento, cerca de 70%, resultante: da destruição, quase total, da floresta local, e das enormes impermeabilizações derivadas das construções da A25, A23 e outras de caráter urbano, realizadas nos últimos 50 anos.
O processo de construção desta barragem, estava atrasado, mas já tinham começado a ser pagas as indemnizações, aos proprietários dos terrenos. De repente foi suspenso, com o compromisso assumido pelo PS, com os partidos à sua esquerda, que viabilizaram a geringonça, e por influência, na opinião de muita gente, do partido ecologista os Verdes; numa clarividência absoluta, de que: “nem tudo o que luz é ouro” e nem tudo o que é verde é ecológico!… Aqui não havia gravuras rupestres nas rochas! E, a fauna e a flora local, há muito que haviam sido dizimadas, pelas vagas de incêndios, que ano após ano assolam a região. Assim, a sua suspensão não passou de um ato de evidente trampolinice política, para alcançarem o poder, e com plena lucidez do prejuízo nacional causado. Nada mais que isso!
Conformados, a que os sucessivos governos deste país, realizem obras de fachada, de grande impacto visual, e quase sempre, de pouco ou nenhuma utilidade rentável, mas tão somente: com a finalidade de iludir e estimular os incautos votantes.
Deveríamos, com urgência, começar a exigir contas: do custo/benefício dos investimentos públicos, para que o supérfluo não se sobreponha ao essencial. E, para deixarmos, de uma vez por todas: de corrermos, sempre, atrás do prejuízo, com os maus atos de gestão pública, a que já fomos habituados.