Península Ibérica – jangada de pedra


E de repente, tudo mudou.
António Costa demitiu-se por estar a ser investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça, é normal.
O seu chefe de gabinete tinha 75,8 mil euros guardados em São Bento, é normal.
O melhor amigo, Diogo Lacerda Machado, é agora inimigo, é normal.
O ministro João Galamba não queria demitir-se, é normal.
O governador do Banco de Portugal foi convidado para chefiar o governo, é normal.
Afinal, os anormais somos nós. É o novo normal! Habituem-se!!!
Nada que deva chocar-nos neste país, ou neste circo que é a política portuguesa! Depois das prisões e da demissão, imaginem o que se pensarão sobre nós lá fora? Mas não se passa nada, e o Partido Socialista irá novamente a eleições sem fazer um exame de consciência sobre todos os males que tem feito a Portugal.
Mas, do outro lado da fronteira, em Espanha a situação não é melhor. Entre protestos, ameaças de processos na justiça e acusações de estar a ir contra a Constituição Espanhola, Pedro Sánchez (líder do PSOE), conseguiu reunir os votos para ser eleito como o futuro primeiro-ministro de Espanha. Terminou assim um ciclo de negociações entre partidos para que fosse possível encontrar um Governo para o país, depois das eleições de junho ganhas pelo PP, de Alberto Núñez Feijóo. Mas como este não conseguiu reunir apoios suficientes para ser nomeado líder do Governo, acabou por ser Sánchez, cujo Partido Socialista Obreiro Espanhol tinha ficado em segundo na eleições, a ir negociando com partidos de esquerda, regionais e independentistas, de forma a conseguir os votos necessários para se manter no poder. Onde é que já vimos isto?
Como afirmou João Miguel Tavares “Em Portugal isto está mau, mas em Espanha está pior. Em troca desse apoio, ofereceu ao Junts e ao ERC uma lei da amnistia que não constava do programa eleitoral do PSOE e que, portanto, nunca foi sufragada pelos espanhóis. E um corte de 15 mil milhões de euros na dívida da Catalunha ao Estado central (20% da dívida total), num escandaloso favoritismo de uma região de Espanha face a todas as outras comunidades autónomas. Para permanecer como primeiro-ministro, faltou apenas a Pedro Sánchez vender a mãe, o que só não aconteceu porque Carles Puigdemont não o exigiu.”
Em “A Jangada de Pedra” escrito por José Saramago em 2015, uma série de acontecimentos sobrenaturais culmina na separação da Península Ibérica do resto da Europa que começa a vaguear no Atlântico, inicialmente em direção aos Açores. A situação criada por Saramago, permite-lhe tecer comentários sobre as grandezas e pequenezas da vida, ironizar sobre as autoridades e os políticos e, em especial, com os atores dos jogos de poder na alta política.
O engenho de Saramago esteve ao serviço da literatura. O engelho dos socialistas está ao serviço deles próprios.
Agora, tire as suas conclusões antes que a jangada de pedra funde definitivamente!