Aranha “buraqueira de Fagilde” foi redescoberta em Mangualde, 92 anos depois da última vez que foi avistada


A documentação cientifica da buraqueira de Fagilde (Nemesia berlandi) aconteceu em 1931, pela célebre entomóloga portuguesa Amélia Bacelar, acompanhada pelo seu marido, que descreveram o primeiro indivíduo da espécie, uma fêmea.
Daí para cá, não mais foi avistada, levando ao surgimento de dúvidas sobre a sua extinção. Assim sendo, e pela facto de não existirem provais reais de que tivesse realmente desaparecido para sempre, a espécie acabou por fazer parte da lista das mais procuradas pela organização conservacionista Re:wild.
No passado mês de Dezembro, Sérgio Henriques, líder de um grupo de investigadores, anunciou que a buraqueira de Fagilde foi novamente avistada no local onde há quase um século havia aparecido pela primeira vez.
Sérgio Henriques, que é coordenador de conservação de invertebrados no Centro Global da Sobrevivência de Espécies do Zoo de Indianapolis (Estados Unidos), explica, em comunicado, que “a buraqueira-de-Fagilde é a única espécie endémica de Portugal continental que não tinha um avistamento documentado há quase um século ou mais”.
Descrevendo a aranha como “uma espécie notável”, salienta que a aranha “é tão portuguesa como o Fado e é nosso dever assegurar que continua a ser parte do nosso património natural”.
Para o investigador, a existência da aranha, depois de tantos anos sem ser vista, é demonstração real da proteção e cuidado que a população tem na conservação da floresta.
De acordo com Sérgio Henriques, a expedição em busca da buraqueira de Fagilde teve lugar entre agosto de 2021 e o passado mês de novembro, passando a pente fino as áreas florestadas em volta da aldeia de Fagilde e também dentro da povoação. Os investigadores chegaram mesmo a colocar ninhos artificiais na esperança de atraírem algum macho.
Esta espécie, ao contrário das outras do género Nemesia, constrói os seus ninhos subterrâneos na horizontal. As entradas para as suas tocas feitas de teias e vegetação costumam ter cerca de 10 centímetros, e são tapadas por portas que as transformam em verdadeiros alçapões, através dos quais capturam as suas presas.
No ano findo de 2023, seguindo os rastos deixados, Sérgio Henriques acabou por descobrir uma fêmea adulta na sua toca, com perto de 10 crias.
A certeza de que era realmente uma buraqueira de Fagilde só veio depois de realizado um teste de ADN. Segundo o investigador, quando assustadas, esta espécie, larga uma pata que depois volta a crescer e, foi uma dessas patas, que os cientistas recolheram para poderem realizar os testes que confirmaram ser realmente a “aranha desaparecida”.
Apesar de se ter concluído que a Buraqueira de Fagilde não desapareceu, o seu futuro é uma incerteza, visto que a região onde habita tem sofrido grande impacto devido aos incêndios florestais.
A curiosidade, e a raridade do “bicho” tem levado a que a população se mostre entusiasmada e cada vez mais predisposta na ajuda para se encontrarem mais espécimes.
De acordo com dados da wikipedia “O grupo de investigadores colaborou com a pastelaria Quinta da Tapada, em Fagilde na produção de um bolo que replica o comportamento de toca da aranha, colaboraram também com Nuno Campos do projecto CUIDA - Fauna e Flora de Lafões, com Sónia Ferreira e sua equipa do CIBIO-InBIO Universidade do Porto, Isabel Serra, Diretora da EduFor, com Ana Marto e outros docentes da Escola Ana de Castro Osório em Mangualde, com Ana Martins professora da Escola Básica de Fagilde, com a Casa do Rio Fagilde e com a Associação Cultural e Desportiva de Vila Garcia.”