500 anos do nascimento de Camões


2024 é o ano em que celebramos os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões que terá nascido a 23 janeiro de 1524.
Tido como uma das figuras mais importantes da literatura portuguesa, Camões é o autor d’Os Lusíadas, sendo aclamado como uma das principais vozes da literatura épica mundial.
São mais as incertezas do que as certezas sobre os contornos da sua vida, mas consta-se que teve Lisboa como a cidade principal da sua vida, assim como a presença de Coimbra, na qual aprendeu o latim. A obra de Camões nunca foi realmente apreciada por aqueles para quem ele compunha: os portugueses. O verdadeiro reconhecimento chegaria apenas após a sua morte, tinha então o poeta 55 anos. Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Mosteiro dos Jerónimos. Passado tanto tempo, continua a ser desrespeitado tanto pelos alunos nas escolas como pelos políticos.
Quando Camões se dirigiu aos heróis portugueses que deixaram a terra firme da “ocidental praia lusitana” para dar “novos mundos ao mundo” entre “mares nunca antes navegados”, não tinha noção que também ele iria fazer parte daqueles “que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”.
Apesar de ter sido criado um comissariado em 2021 para as “Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões”, nada se fez para celebrar o seu nascimento, nem o dito comissariado teve condições para o fazer como disse a comissária e professora catedrática Rita Marnoto. O objetivo destas comemorações era precisamente celebrar o contributo do poeta para a história da literatura e da língua portuguesas: “Os 500 anos do nascimento de Camões são, assim, uma oportunidade única para pensar o legado de um poeta omnipresente, tanto na literatura como na identidade portuguesas”, lê-se na resolução.
O facto de se tratar do expoente maior da literatura portuguesa e símbolo da vocação universalista da língua e da cultura portuguesas merecia uma maior dignidade. Só falar no seu nome devia-nos colocar os olhos a brilhar de alegria e de orgulho, no entanto, ler Camões hoje nas escolas portuguesas, implica admitir que, nestes 500 anos, este não é um autor admirado, ou que suscite a curiosidade da maioria dos alunos, sendo motivo não de mistério, mas de um reação de aborrecimento.
Pelo contrário, devíamo-nos exaltar e envaidecer pela obra de Luís de Camões, da mesma forma forma que o fazemos pelo clube futebol ou outra coisa equiparável.
Termino com um texto de Vasco Graça Moura “o que parece preocupante é o facto de cada vez menos haver em Portugal qualquer espécie de interesse por Camões e por aquilo que ele representa. O nome do autor de Os Lusíadas tende a ser apenas a marca distintiva de um feriado, ambíguo luxo nos tempos que correm, e pouco mais. As questões da identidade começam por estar relacionadas com a língua materna e esta deve a Camões a sua dimensão moderna. Mas estão à vista as consequências que, para a identidade, decorrem do atual estado de coisas: a língua materna está cada vez mais deteriorada.”