EDITORIAL Nº 668 – 1/9/2015

SR

Caro leitor
Qual a diferença: comer do trabalho ou trabalhar para comer? Eis a questão. Há tempos atrás já falei dos meus tempos de miúdo quando chegava da escola a casa e antes de meter a chave. na porta, tinha primeiro de ler um bilhete com aquilo que tinha de fazer a seguir pois, era sempre trabalho.
Cresci e aprendi que tínhamos de trabalhar e muito para comer. Cheguei à conclusão que do céu só vem sol e água, o resto temos e devemos de fazer nós para não sermos acusados de deixar o Mundo pior do que o encontramos e terem outros de trabalhar para a nossa sobrevivência. Já diz a estatística que trabalham cinco para três que nada fazem.
Nos anos sessenta, na minha aldeia vivia-se do trabalho da lavoura de onde vinha o sustento para todo o ano. Grandes searas logo, muito trabalho. Grandes arcas de milho e centeio eram cheias para alimentação do ano inteiro, até chegar o tempo de deitar novas sementes à terra, nova colheita, para mais um ano após outro e assim sucessivamente. No tempo dos meus avós nasciam e morriam e o mundo em pouco mudava - até que chegou o 25 de abril de 74.
Da agricultura vinha o sustento do homem que era obrigado a saber dividir pelo ano inteiro o que tinha granjeado nas suas colheitas. Dizia minha mãe que Deus tem e com razão que “o relego é no cimo do saco”, pois quando chega ao fundo já há pouco a fazer e vem ao de cima o desespero. Para os dias de hoje, poupar é com a carteira cheia, vazia não tem solução mas, nos tempos que correm parece haver pouca gente que saiba aplicar estas práticas de bem viver e foram na onda de gastar mais que o que ganham com o seu trabalho e já que o banco empresta, vamos gastar que amanhã é outro dia, assim, muitos ficaram sem o dinheiro e sem casa, perderam o esforço de uma vida, porque ninguém dá nada a ninguém. Que explicações darão agora aos seus filhos ou netos. Será que pensam: se ao menos pudesse voltar atrás! O filho pródigo voltou, arrepiou caminho e viu que valeu a pena revestir-se de um homem novo, coisa que muitos não têm coragem e continuam no caminho que não os leva a lado algum.
Só o trabalho nos dignifica, pois feliz daquele que trabalha e trabalha com gosto, pois tudo o que se faz com gosto não custa na vida, passa bem o dia e dá lucro por tudo aquilo que faz mesmo sem o sentir.
Vou contar-vos um episódio, em 1950 foi construída a Igreja da minha terra e para além de muitos trabalhadores, andavam lá dois rapazes da mesma idade a carregar pedra para a construção da torre, que tem 20 metros de altura e chegou o benemérito que pagava tudo, Elísio Ferreira Afonso, e procurou ao primeiro, este que trabalhava sem vontade: “que andas a fazer” “eu ando aqui escorraçado, cansado, roto e cheio de calos a carregar pedra para colocarem umas em cima de outras”. Ao passar pelo outro da mesma idade que trabalhava com gosto faz-lhe a mesma pergunta e este responde-lhe: “eu ando a carregar pedra para construir uma torre que vai levar dois sinos e um relógio para bem de todos os habitantes da nossa aldeia”. Vejam bem a diferença dos que trabalham com vontade e dos que trabalham sem vontade.

Abraço amigo