EDITORIAL Nº 671 – 15/10/2015

SR

Caro leitor,

Passámos os últimos meses preocupados com os refugiados que foram chegando à Europa a fugir de uma morte anunciada nos seus países de origem.

Já nos anos anteriores se deu este influxo em massa de imigrantes. Quem não se recorda de Lampedusa e em particular do notório incidente de 2013.

Neste espaço, já no passado me pronunciei sobre o assunto e fiz menção da necessidade de alertar as autoridades competentes para a quantidade de Lampedusas que poderiam vir a surgir também no nosso país. Temos uma obrigação humana e humanitária de acolher os quem necessita mas temos, ao mesmo tempo, também a obrigação de assegurar a segurança, o bem-estar e o emprego de a quem chamamos nosso. Foi este o dilema que se apresentou em certos países da Europa, levando inclusive à adopção de políticas restritivas face à imigração para assegurar um equilíbrio em que a ajuda humanitária não se sobrepusesse à obrigação governativa de assegurar as necessidades dos nacionais.

Também nós, portugueses, temos um país de emigrantes e ao longo da história fomos habitando um pouco de todo o mundo. E nisto, gostamos de ser bem recebidos onde quer que seja. Em toda a nossa emigração, fomos à procura de pão e de estabilidade, mas principalmente de um trabalho que nos pagasse ambos. Somos também conhecidos pelo rápido ajuste e desenrrascanço, adaptamo-nos facilmente a leis e culturas externas com o único critério do bom senso. Mas há outros imigrantes distintos, que se focam nos direitos antes de se focarem nos deveres e exigem. Numa altura, em que os portugueses e a Europa perderam o luxo das exigências, ou fazendo-as há muito deixaram de ser minimamente correspondidas. Se a imigração for deste tipo, obriga a que os portugueses tenham a capacidade de ajuste como teriam imigrantes, mas desta dentro fronteiras. Infelizmente, estamos já numa altura em que a capacidade de ajuste dentro fronteiras está baixa em stock e a ajuda humanitária que obrigue a ajustes mais facilmente fraqueja.

Portugal já foi o porto de abrigo de milhares de refugiados e Aristides de Sousa Mendes ficou para sempre na história nacional e internacional por ter passado vistos para Portugal. Mas entre lutas e lutas, todos temos a nossa e a dos outros. Por vezes, a nossa luta ganha importância e luta contra as outras. Ou, por vezes, perdem ambas a luta.

Um abraço amigo,