Investimento da PSA em Mangualde tem apoio de Bruxelas de 9,5 milhões

A fábrica portuguesa é a mais competitiva do grupo, mas isso não garante nada. O novo modelo Citröen K9 será produzido em parceria com Vigo. Novas contratações não são certas.

A PSA conta com um apoio de 9,5 milhões de euros de fundos comunitários para introduzir o novo modelo, o Citröen K9, na fábrica de Mangualde. Em causa está um investimento global de 48 milhões de euros na fábrica com a produção de um modelo que vai substituir o Peugeot Partner e o Citröen Berlingo, actualmente fabricados na unidade.

Segundo apurou o Económico, os 9,5 milhões de euros em apoios comunitários que a fábrica conseguiu ainda não foram pagos na totalidade.
Na última entrevista que o Económico fez ao CEO da PSA, Carlos Tavares não quis revelar o valor do apoio que conseguiu de Bruxelas. “Para ser franco não sei”, disse quando questionado sobre o montante em causa. “É uma questão tratada pelo responsável pela Europa e pelo responsável pela industrialização que tiveram um diálogo de boa qualidade com o Estado português. Mas se soubesse também não diria porque é uma questão confidencial entre a PSA e o Estado português”, acrescentou o responsável português que já está à frente dos destinos do fabricante francês há quase dois anos.

Carlos Tavares considera que o uso de fundos estruturais “não é uma estratégia”, mas “um direito”. “Nas regras europeias qualquer empresa que esteja a fazer um investimento na Europa tem o direito a esse acesso e a esses apoios. Caso contrário, seria do interesse das empresas europeias não investir na Europa, o que seria contra-produtivo para todos os cidadãos europeus”, justificou.

A PSA é por definição uma empresa globalizada sempre à procura das melhores oportunidades e da melhor relação qualidade preço. Assim se justifica, por exemplo, a decisão de instalar em Marrocos uma base que começa a produzir em 2019, e que vai criar 25 mil empregos e que produzirá 200 mil unidades, mais do que as quatro fábricas instaladas em Portugal (160 mil), referia o Expresso este fim de semana.

“A PSA tem todo o interesse em se transformar num construtor automóvel mundial”, disse o gestor português. Na mesma entrevista, Carlos Tavares não se cansou de sublinhar a necessidade de Mangualde “ter os olhos bem abertos” porque, apesar de “ser a unidade mais eficiente de toda a Europa”, deve ter “cautela” e não descansar sobre os louros obtidos. “Não quero que esta posição [topo da tabela dos mais competitivos] seja entendida como uma autorização para relaxarem”, alerta. A reestruturação do grupo PSA ainda não está concluída e Mangualde foi a principal responsável pela quebra de 2,6% da produção automóvel, em Portugal, nos nove primeiros meses do ano. “Ainda não recuperámos completamente da quebra brutal da procura de clientes”, explica Carlos Tavares, recordando que “Mangualde é um ponto de produção mundial”. “Estamos cerca de 20% abaixo do nível anterior à crise, o que é muito significativo”, frisa.

Com o investimento de 48 milhões de euros, a fábrica tem assegurada a continuidade já que não fica reduzida aos modelos que actualmente produz e que serão descontinuados. Mas, o K9 vai ser produzido em parceria com a fábrica de Vigo, em Espanha. Uma parceria que o responsável defende que “protege Mangualde”. Apesar de não excluir no futuro que possa haver um modelo único para a fábrica portuguesa, lembrou que “seria errado pensar que isso protegeria Mangualde”.

Carlos Tavares recusa ligar a captação do novo modelo a um aumento de pessoal na fábrica. “Pode ter [um reforço de trabalhadores], desde que o mercado aceite bem o automóvel”, diz. E esse aumento “pode ser” feito com recurso a temporários, como já aconteceu com o terceiro turno, posteriormente dispensado (em causa estiveram envolvidos 280 trabalhadores e apoios comunitários).

"in económico"