EDITORIAL Nº 676 – 1/1/2016

SR

Caro leitor

Vou falar-vos de um episódio, coisa que faço habitualmente neste espaço. Histórias de vida.
Na minha juventude tinha um amigo com quem desabafava e afirmávamos conceitos. Esse amigo, encontrava graça nas moças, era um sortudo, mas não primava pela inteligência e somava o facto dos pais serem da classe média baixa.
Um dia, o rapaz conheceu uma menina e apaixonou-se por ela. A moça, não sendo de família nobre e endinheirada, tinha nome e o suficiente para parecer rica. Esta, sem experiência na arte de amar, engraçou com o meu amigo, demonstrando nos seus modos o que lhe ia na alma.
As famílias eram amigas e visitavam-se regularmente. Era hábito no meu tempo, uns com maldade, outros sem ela.
A mãe do moço viu com bons olhos este amor, mas o mesmo não aconteceu com os pais da jovem, porque a prudência assim o aconselhava.
Certo dia, estavam nas férias do Natal, encontraram-se para confraternizar e provar um bolo da nova pastelaria. A mãe da moça encaminhou a conversa para casamentos e disse que gostava que a filha casasse com um engenheiro, pois queria ter na família alguém formado em engenharia, uma vez que o pai era construtor civil. “A menina ainda é muito nova para pensar nisso”, disse a mãe do rapaz. Retorquiu a mãe da moça, “mas é bom alerta-la já para o futuro, não venha a ser enganada por um caçador de dotes”.
O rapaz tudo ouviu em silêncio e veio contar-me destroçado. Entristeceu-me profundamente o coração quando me disse “se pudesse seria engenheiro, mas não tenho inteligência para tal”.
Certo é que a moça, deixou de corresponder aos olhares do rapaz, possivelmente por recomendação de seus pais.
Os anos passaram e passam.
Um dia de verão, encontrei o meu amigo na doca de Portimão. Demos um abraço e disse-me que já estava casado. Perguntei-lhe se foi com a Mafalda. Ficou com um ar tenso e sério, e acrescentou, que se tinha casado também, mas não com ele, referindo ainda, “sabes, nunca a esqueci, vivo com esse martelo a martelar-me todos os dias, mas tenho que seguir em frente”. Coitado do meu amigo, se tivesse um pouco mais de inteligência e dinheiro na bolsa, teria sido o marido ideal da Mafalda, a moça que lhe tocou o coração.

Feliz 2016 e um abraço amigo,