EDITORIAL Nº 689 – 15/7/2016

SR
Caro leitor,

Portugal é Campeão Europeu de Futebol e, com ele, somos todos nós!
Alcançamos um feito histórico, contra todas as expectativas e probabilidades. Ganhamos e contrariamos a vozinha que tantas vezes nos disse que não eramos capazes ou que viemos de um país sem vitórias. Com toda a vontade que nos caracteriza, aliada ao pragmatismo e união da seleção, conseguimos o impensável.
Foi um jogo difícil, com muitos momentos de ansiedade e alguns de entusiasmo, mas foi também um jogo onde o carácter dos portugueses se revelou à Europa e ao resto do mundo. Cristiano Ronaldo provou ser mais do que o melhor jogador do mundo, provou ter a liderança de um capitão unificador e a humildade de um miúdo que desde sempre sonhou jogar à bola. Fernando Santos provou ser um líder nato, com uma fé capaz de mover montanhas e capaz de tirar o melhor partido de todas as individualidades que tinha ao seu dispor. Eder provou que a força de vontade produz resultados avassaladores, ainda que inesperados. Portugal revelou ter um carácter persistente, humilde, com fé, emoção e vontade de vencer. Por isto, muito por isto, tornamo-nos vencedores.
Não fosse a vitória, qualquer tipo de vitória, suficiente, foi no entanto uma vitória que atingimos sob as condições mais adversas de sempre. Fomos vencedores com o melhor do mundo lesionado e a sair em maca aos 25 minutos, contra a seleção anfitriã do Euro 2016, que por acaso era uma das melhores seleções da Europa, dizem, e sem o apoio ou favoritismo de muitos. Tudo isto foram extras à vitória, que a tornou mais saborosa, que veio validar o resultado e que resultou em conseguirmos o respeito dos descrentes, para além da taça.
A vitória ressoou por todos os cantos do país, mas foi também celebrada, numa dimensão surpreendente, em todos os recantos do mundo. Foi uma celebração além-fronteiras, em que as delimitações geográficas e as distâncias culturais desapareceram. Em muitos sentidos, a vitória despertou o sentimento de pertença nas comunidades de emigrantes portugueses e nas Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A celebração da vitória do Euro 2016 foi incrível, mas a consequência mais surpreendente foi a celebração da história de um país, que tendo uma pequena dimensão, comprovou ter uma presença e uma história transversal a todos os países. Comprova-se que “os portugueses são como o besugo, encontram-se em todos os mares” e o sentimento de pertença a Portugal não se cinge aos portugueses. Muito se disse que não fomos 11, fomos 11 milhões. Contudo, na realidade, também não fomos 11 milhões. “Os portugueses estão no mundo como quem está em casa” e, com a recente vaga de emigração, não nos podemos esquecer dos cerca de 5 milhões de portugueses que se encontram espalhados pelo mundo. São estes os portugueses, que não podendo viver neste país, se voltaram a sentir portugueses de direito e portugueses com orgulho. Foram eles os embaixadores desta vitória.
Em suma, ganhamos o título de campeões europeus de futebol, mas acima de tudo é com um orgulho renovado que nos intitulamos portugueses. Atendendo à condição que nos últimos anos nos foi atribuída, de país europeu de segunda categoria, este sentimento vale bem mais do que 600 milhões.

Um abraço amigo,