DINIS ALFREDO CARVALHO DE FIGUEIREDO, SÓCIO DA FERRAZ & ALFREDO EM ENTREVISTA AO RENASCIMENTO

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Pelo seu percurso pessoal, tendo começado como habitualmente se diz “do zero”, chegando à gerência de uma das mais reconhecidas empresas de Mangualde, a Ferraz & Alfredo, Renascimento dá a conhecer um pouco do percurso de vida desta pessoa por todos conhecida na cidade de Mangualde – o Sr. Dinis Alfredo Carvalho Figueiredo.

Sr. Dinis, qual o seu nome completo e em que ano nasceu?
Nasci em 1955 e chamo-me Dinis Alfredo Carvalho Figueiredo. Sou natural de Mangualde, por nascimento, uma vez que nasci no velho Hospital, onde hoje existe o lar Morgado do Cruzeiro.

É portanto natural de Mangualde?
Sim, sou natural de Mangualde, mas os meus pais são da Mesquitela, onde viviam e foi para lá que me levaram, batizaram-me lá e foi lá que fiz a escola primária. Sou portanto um filho da Mesquitela.
A partir dos meus 11 anos vim para Mangualde trabalhar.

Como já atrás referiu, começou então a trabalhar aos 11 anos?
Sim. Como é sabido, naquela época quem acabava a escola primária e os pais não tinham possibilidades financeiras iam trabalhar, como foi o meu caso. Com essa idade vim trabalhar para a firma António dos Santos & Cª, mais tarde já com 13 anos fui trabalhar para a firma António Marques Marcelino, tendo ali estado como empregado até ao ano de 1978, nesse ano, eu o o meu colega António Ferraz, ficamos com a empresa, tendo formado a firma Ferraz & Alfredo, Ldª, a qual fez 38 anos no dia 28 de outubro de 2016 e ainda hoje se mantém.

Sr. Dinis, foi portanto uma vida sempre dedicada ao trabalho desde que veio para Mangualde aos 11 anos?
Sim, dediquei-me porque gostava do que fazia.

E a vida pessoal do Sr. Dinis, também sofreu alterações? Constituiu família?
Sim, no ano de 1978, foi um ano de transformação na minha vida, fiz sociedade e casei com a Mª da Glória.

Então, com o casamento a Dª Mª da Glória também passou a trabalhar na sociedade?
Não. A minha esposa só uns anos mais tarde foi empregada da firma.

Foi então nesse ano, 1978, que nasceu a firma Ferraz & Alfredo?
Exatamente.

Apesar de já haver a experiência como empregado, a responsabilidade como proprietário é diferente. Diga-nos, como foi pegar assim num negócio?
Foi totalmente diferente. Foi passar do dia para a noite. As responsabilidades eram outras. Devo dizer que na altura a minha situação financeira não era boa, pois tinha 23 anos. Se não fosse o meu irmão José Carlos, que me proporcionou esse passo, não teria verba para o fazer.
Foi um início de vida um bocadinho agitado, por vezes sem tempo para a família e para o meu filho, Ângelo, que nasceu em 1979 e atualmente é funcionário da firma. Não havia horas para dormir, para comer, para me dedicar a eles. Havia muito trabalho na empresa, quer na parte do setor dos têxteis lar, que nós implantamos na firma, quer no setor funerário que nessa altura não era como é hoje. Naquele tempo, a maioria das pessoas faleciam em casa e éramos contatados a qualquer hora. Foi um tempo de trabalho árduo, mas era assim.

Então, do que nos referiu, concluímos que a Ferraz e Alfredo não se dedicava apenas a uma atividade?
Não.

A Ferraz & Alfredo tinha dois setores diferenciados, o do vestuário e a agência Funerária. Já no início era assim?
Sim, exatamente. Uma única empresa, setores distintos no mesmo estabelecimento.

Trabalhar a área funerária era certamente mais difícil. Havia experiência?
Sim, já havia experiência, visto ter começado a trabalhar no setor funerário aos 13 anos. Quando ficamos com a firma e fizemos a sociedade eu já tinha bastante experiência do setor, claro que totalmente diferente do que se faz hoje, mas já fazia todo o tipo de trabalho nessa área. Esta experiência era também extensiva aos outros setores como o atendimento ao balcão. Depois, foi só adquirir um pouco de experiência na gestão da gerência, de lidar com fornecedores nas compras, e nesse aspeto, tenho que agradecer às firmas que nos abriram as portas quando iniciamos a sociedade.

O setor funerário é uma área na qual nem todos se sentem à vontade. Diga-nos Sr. Dinis, como foi um miúdo, porque era um miúdo quando começou a trabalhar, lidar tão de perto com a morte?
Foi difícil. Claro que quando vim trabalhar, no meu primeiro serviço funerário receei, como é lógico, mas também sabia e tinha a noção que não era para andar a saltar de emprego em emprego. Tinha que me adaptar, porque o que me interessava mesmo, era o comércio. Então, comecei a mentalizar-me que se alguém nos fazia mal não eram os mortos. A pessoa que morreu merece todo o nosso respeito, assim como as suas famílias e por esse motivo não me foi difícil a adaptação.

Há uma diferença muito grande em relação ao que era feito antigamente e ao que se faz atualmente?
Há. Hoje há formação específica para este trabalho, ou seja, a Tanatopraxia. Houve novas introduções neste campo, novas tecnologias. É diferente. Hoje todos os nossos colaboradores têm formação nesta área para fazer este trabalho, eu já me resguardo mais disso, mas claro, também faço.

Um outro aspeto que não será fácil nesta área, será também o trato com as famílias?
Não é fácil, mas é preciso termos algum conhecimento, de psicologia. Eu pessoalmente, fui adquirindo essa experiência com os anos. Quando me perguntam o meu grau de ensino, costumo dizer “a universidade da vida”. Temos recebido muitos elogios e as pessoas reconhecem o nosso profissionalismo.

Para dar resposta aos serviços a Ferraz & Alfredo tem atualmente quantos funcionários?
Quatro funcionários e dois sócios gerentes.

Como está a Firma Ferraz & Alfredo atualmente?
Olhe, a Ferraz & Alfredo sessou por enquanto a parte do balcão de têxteis lar, confeção, retrosaria. Deixamos de trabalhar este setor no passado dia 15 de julho e daí para cá dedicamo-nos exclusivamente ao setor funerário. Claro que, ao fim de 50 anos o contato diário com os clientes de balcão tornou-se para mim um bocadinho difícil o ter que aceitar esse terminus, mas, tudo na vida tem as suas alterações. Sinto saudades desse balcão. Em janeiro de 2016 houve alterações na sociedade, o Sr. António Ferraz saiu por venda da sua quota ao Sr. Serafim Tavares e a entrada deste Senhor, levou a que realmente houvesse uma alteração na empresa. A confeção hoje em dia já não é um negócio muito rentável na medida em que, como se sabe, abriu muito pronto a vestir em grandes áreas comerciais e estes vieram diminuir as vendas do comércio tradicional, tendo mesmo acabado com ele. Todas as casas comerciais tinham empregados, hoje não têm. Hoje, são só os proprietários e muitas vezes dizem que já são muitos e isso também foi um dos fatores que levou a que tomássemos esta posição.

Com a saída no fim de 2015 do sócio Sr. António Ferraz, não pensou em colocar o seu filho e a sua esposa na sociedade tornando-a uma empresa familiar?
Foi discutido, mas isso teve muito a ver com a minha situação de saúde. O setor funerário tem que ter sempre gente disponível e quando um de nós tiver que se ausentar, ou for de fim de semana, ou de férias que também tem direito, tem que ficar sempre alguém de serviço e ao ponderarmos esses prós e contras, decidimos que deveríamos deixar entrar um novo sócio.

Sr. Dinis, como tem sido a experiência, lidar com o novo sócio?
Tem sido boa e até com um ponto de admiração para mim. Uma pessoa como o Sr. Serafim Tavares que não conhecia, a trabalhar o setor funerário, e que se adaptou a essa realidade, às vezes digo-lhe “o Sr. tem-me enganado, porque o Sr. já trabalhou nisto”. Ele diz-me que não, que nunca trabalhou nesta área e eu sei que não, mas muitas vezes a maneira como se apresenta para lidar, mostra experiência. Em questão de trabalho e de relacionamento como sócio, nada a apontar. Estamos em dezembro, vão 12 meses e a nossa relação tem sido ótima e espero que assim se mantenha. Eu digo assim, se eu mantiver esta relação comercial com este novo sócio por mais 38 anos, é óptimo.

Sr. Dinis perspetivas para o futuro.
Perspetivas para o futuro, neste momento estamos a pensar nelas. Estão a ser estudadas. Já demos um passo, ao adquirirmos o património da funerária Senhora das Almas em Chãs de Tavares. Demos um passo para o alto concelho e quiçá outras praças. Estamos a 18kms de Viseu. Brevemente iremos voltar para as primeiras instalações de Ferraz & Alfredo, onde estamos a executar obras de reparação. Estamos a criar um estabelecimento mais confortável. Estamos a fazer um estabelecimento com futuro e com boas instalações. Aqui, neste setor, o futuro já é mais para o meu filho e para o Sr. Serafim Tavares do que para mim, mas também ainda vou estar presente durante mais algum tempo.

Alguma consideração final que queira deixar Sr. Dinis?
A consideração que posso deixar, é uma palavra de agradecimento a todos os clientes de Ferraz & Alfredo. Não irei referir nomes, senão nunca mais parava e não tinha jornal para escreve-los. Com a nossa experiência e capacidade de trabalho mostramos às pessoas a nossa posição de honestidade e educação. Também, a todas as pessoas que por um ou outro motivo nos têm dado uma palavra de agradecimento, um muito obrigado e dizer que continuamos a prestar os nossos serviços e,… muito obrigado a todos.
Um bom ano 2017.