MUITO DESAGRADÁVEL

Com grande desagrado foi como li as considerações de António Lobo Antunes sobre José Saramago. Li muitas das obras de António Lobo Antunes, tenho mesmo algumas delas na minha biblioteca pessoal, e fiquei muito longe de me ter encantado com o seu estilo literário.
Em contrapartida, tenho e li quase tudo o que foi dado à estampa por José Saramago. E, dentro da relatividade da qualidade de uma obra, sempre coloquei este bem acima de Lobo Antunes. De resto, se eu fosse membro do júri do Nobel da Literatura, sempre seguiria esta minha impressão nas primeiras dez escolhas.
Como certamente se compreende, eu tive a oportunidade de falar da obra de ambos, fosse com familiares ou com amigos ou conhecidos. E posso dizer que nunca encontrei um só destes que tenham defendido a superioridade de António Lobo Antunes face a José Saramago. No domínio das respetivas obras literárias.
Acontece, até, que muitos dos que comigo abordaram esta temática foram sempre antagonistas, por razões político-ideológicas, de José Saramago. Muitos eram mesmo, sem um ínfimo de cultura, doentiamente anticomunistas. Como usa dizer-se, eram-no sem saber ler nem escrever.
Não sei se José Saramago tinha um pó e uma inveja, a João Lobo Antunes, mas tenho grandes dúvidas sobre tal realidade. E um pó e uma inveja porquê?! Pois, não foi José Saramago laureado com o Nobel da Literatura?! Não foi agraciado por tudo e todos, por cá e lá por fora?! Não é estudada a sua obra nas academias, desde as nossas a outras de grande prestígio mundial?!
Em contrapartida, já acredito que se achasse um grande escritor, porque assim o considerou quase todo o mundo, muito em especial os muitos milhões de leitores de países os mais diversos. A verdade é que José Saramago era um grande escritor, pelo que é natural que gostasse de ver reconhecido o seu valor pelos tais milhões que o aplaudem por toda a parte. Mas, enfim, António Lobo Antunes sempre achou aquilo uma merda.
No meio de toda esta recente conversa de António Lobo Antunes o que agora me traz a memória são as recentes palavras do Presidente Donald Trump, a propósito daquela conversa sem nexo de um jornalista da Fox News, sobre (poder?) ser o Presidente Vladimir Putin um assassino: há muitos assassinos... E assim se pode agora completar a saída de António Lobo Antunes: há muita merda na nossa literatura... Enfim uma conversa muito desagradável.

Hélio Bernardo Lopes