No passado dia 17 de novembro, tomaram posse os órgãos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde.
Manuel Fernando Cabral, assume agora funções de Provedor, função que já vinha a desempenhar de há 6 meses para cá, após nomeação de Comissão Administrativa, por D. António Luciano, Bispo de Viseu, em virtude da anterior mesa presidida por José Tomás se ter demitido.
Renascimento falou com o recém eleito Provedor que deixou um aspeto geral da Misericórdia e do trabalho que ele e a sua mesa se propõem levar a cabo.
1 - A Santa Casa da Misericórdia de Mangualde tem tido ao longo dos anos um papel muito relevante no Concelho de Mangualde no apoio Social à infância, às pessoas idosas e aos doentes.
Que se propõe fazer neste seu mandato em que foi eleito Provedor com uma maioria absoluta?
R: Antes de mais, apresentamos as nossas saudações ao Jornal Renascimento e a todos os seus leitores, desejando que esta pequena entrevista possa ter algo de proveitoso para todos.
Por outro lado, é com enorme honra e a maior reverência pela Santa Casa da Misericórdia de Mangualde que aqui a representamos e em seu nome também falamos.
Respondendo à questão colocada, o projeto de ação dos órgãos sociais agora eleitos é aquele que foi feito constar do respetivo “manifesto eleitoral” e que muito gostaríamos de poder executar.
Assim, para além do mais, é nosso propósito:
- Operacionalizar o Lar Morgado do Cruzeiro mediante a integração do edifício primitivo, cujas obras de remodelação estão em vias de conclusão e onde parte dos trabalhos foram realizados com meios próprios, em detrimento de adjudicações adicionais a terceiros, do que resultaram significativas poupanças para a Instituição.
Concluída esta obra o Lar Morgado do Cruzeiro, com os seus dois edifícios, fica com uma capacidade de acolhimento total de cerca de 90 utentes. - Socorrendo-nos, se possível, de fundos europeus, por via do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), desejamos, ainda:
a) - Ampliar a Unidade de Cuidados Continuados;
b) - Remodelar o Lar de Nossa Senhora do Amparo, cuja construção se mostra, em alguns aspetos, desajustada das necessidades atuais, dotando-a de mais e melhor conforto para os utentes e de equipamentos que promovam a eficiência energética e a utilização de energias renováveis para auto-consumo;
c) - Restaurar a Ermida de Nossa Senhora do Castelo, que apresenta sinais evidentes de degradação, designadamente no seu exterior; - Diligenciar no sentido da reativação do Restaurante Ermitão, de modo a preservar e rentabilizar este simbólico elemento patrimonial da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde, proporcionando à população em geral a oportunidade de desfrutar desta infraestrutura em lugar tão privilegiado;
- Preparar o terreno contíguo às instalações da Misericórdia, cuja escritura de compra foi formalizada no passado dia 29 de Junho do corrente ano, de modo a poder ser utilizado, também, como espaço de lazer e de divertimento pelos utentes e crianças da Creche.
Estas obras encontram-se em fase de conclusão, ficando a Instituição dotada de um equipamento raro e de enorme valia. - Implementar o “Apoio domiciliário diferenciado.
Isto é, o nosso propósito é promover todo o tipo de ações que contribuam para uma cada vez maior afirmação e projeção da imagem da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde, sua sustentabilidade, preservação e aumento do seu património e permanente melhoria das condições de vida e de conforto dos seus utentes.
Sabemos que tudo isto não passa, por ora, de meras intenções. Porém, nesta fase não o poderia ser de outro modo, uma vez que acabámos de tomar posse e não temos o futuro nas mãos. Certo, contudo, é que os mesmos propósitos são sérios e sustentados, tanto mais que, apenas, a vontade de servir o próximo e a Instituição nos motivou na disponibilidade para o exercício de funções, onde tudo aquilo que nós queremos fazer é dar e nada receber.
Por isso, não havendo aqui quaisquer intuitos demagógicos, de aproveitamento ou promoção pessoal, tudo aquilo a que nos propusermos e viermos a executar só pode ter a chancela do reconhecimento do efetivo interesse, da verdade e do rigor.
Assiste-nos, por tudo isto, a legitimidade moral para solicitarmos o apoio de todos os Irmãos da Misericórdia e das demais pessoas que nos queiram acompanhar nesta cruzada de ajuda aos mais necessitados, nas suas diferentes carências, no que todos devemos estar unidos.
2- Como caracteriza o Concelho de Mangualde e que carências tem no campo social?
Sufragando-se, aqui, o douto entendimento da Exm.ª Diretora Geral desta Instituição, “o concelho de Mangualde tem uma grande diversidade de desafios no campo social e da saúde, às quais urge estar atento e a Misericórdia de Mangualde tem sido, ao longo dos seus 400 anos, um grande parceiro, quer no diagnóstico e interpretação desses desafios e das dinâmicas sociais, quer na participação nos diversos mecanismos e na criação de respostas sociais e equipamentos.
Existem já respostas sociais assertivas ao nível da primeira infância, que exige uma qualidade acrescida, sabendo-se, hoje em dia, que uma resposta adequada nessas idades tem um impacto de mais de 35% no futuro pedagógico das nossas crianças.
O acompanhamento social ao nível das idades mais avançadas da população exige a criação de respostas criativas e de equipamentos que permitam qualidade de vida, vivida em liberdade e o mais agradável possível, uma época com novas possibilidades, que até agora não eram tratadas como tal, nomeadamente na conjugação de esforços com as valências da saúde públicas e privadas do concelho.
Veja-se, a título de exemplo, a preocupação com o tratamento médico especializado, a organização com os medicamentos, uma boa alimentação, o acompanhamento na realização das atividades normais da vida diária respeitando as limitações de cada uma, mas promovendo a autonomia de todos, a promoção de atividades físicas e lúdicas como forma de prevenir doenças e manter aptidões físicas e o convívio social, bem como a necessidade de garantir nos espaços públicos e privados um ambiente adaptado aos membros mais velhos da sociedade, são preocupações suficientes que nos devem envolver a todos.
E a Misericórdia de Mangualde está a fazer a sua própria reflexão e a fazer o seu próprio caminho na busca de respostas originais quanto a estas matérias, que estão nas suas preocupações centrais e que, além de inovadora, nos parece ser uma carência na vida social.
Em face da atual longevidade da nossa população é importante deixarmo-nos interpelar se a busca da autonomia das pessoas, da sua qualidade de vida, mantendo-os junto de familiares e dos vizinhos de uma vida, não exige uma resposta social diferenciada ao nível do apoio domiciliário a que todos nos fomos habituando, muito para lá da satisfação das suas necessidades básicas.
Assegurar que no crepúsculo das suas vidas se evita a institucionalização precoce e se garante a satisfação de necessidades básicas de higiene e alimentação, mas, também, necessidades de qualidade e caráter preventivo ao nível da saúde e ao nível social, assegurando que podem ter qualidade de vida no próprio domicílio”.
3- A Mesa da Assembleia é constituída por grandes personalidades.
Entende que é mais fácil executar o seu mandato coadjuvado por pessoas de tanta relevância e com tantas provas dadas nos altos cargos que desempenharam?
Quanto à composição da Mesa Administrativa, não é a mesma constituída por “grandes personalidades”, mas, antes, por pessoas de enorme dimensão moral e grande espírito de solidariedade, que deixaram muito de si, com inequívocos prejuízos pessoais, para se dedicarem às causas da Misericórdia e ao apoio das pessoas que nesta se acolhem.
A título de exemplo (havendo outros), como foi salientado no discurso da tomada de posse dos Órgãos Sociais no passado dia 17 de Novembro, o Sr. General José Albuquerque, que reside, habitualmente, em Lisboa, onde tem os seus interesses e o grupo de amigos, sendo o Tesoureiro da Mesa, desloca-se regularmente até Mangualde, onde participa nas habituais reuniões de direção, servindo a Misericórdia, apenas, pela “alegria de servir”, que foi o lema da nossa candidatura.
Que maior exemplo de desprendimento e de amor às causas sociais poderá ser dado!? E esta é toda a sua e a nossa recompensa!
Depois, também, pelos percursos de vida de cada um dos membros da Mesa Administrativa, é inequívoco que se torna fácil ser Provedor desta Misericórdia, pese embora a sua enorme dimensão. Que mais e maior “aconchego” pode ter um Provedor quando tem a seu lado, para além de uma notável Diretora-Geral, um General, que foi (só!) Diretor-Geral das OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A., um Eng.º que foi Presidente da Câmara Municipal de Mangualde, uma Gerente Bancária, uma Professora e um ex-funcionário da maior empresa empregadora da cidade, a par de um conceituadíssimo Técnico de Contas!?
Por isso, se a nossa ação falhar não será, seguramente, por falta de apoio e do sério empenho de todos os elementos que constituem a Mesa Administrativa.
Como se disse, também, no discurso da tomada de posse, sabemos que a tarefa é árdua e que grandes são os desafios que se apresentam pela frente. Porém, como diz o nosso povo, “dos fracos não reza a história” e quando a motivação dos elementos dos órgãos sociais agora eleitos se alicerça, tão só, na vontade de servir, designadamente os interesses da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde e os utentes que nela se acolhem, tudo quanto de bom fizermos será sempre gratificante para nós e estímulo bastante para prosseguirmos na caminhada agora iniciada, pois que a nossa felicidade será tanto maior quanto mais pudermos contribuir para a felicidade dos outros.
Que a Nossa Senhora do Amparo, que é a Padroeira da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde, nos ajude neste caminho de partilha e de apoio às necessidades sociais mais prementes, o qual desejamos percorrer, necessariamente, com os Irmãos, utentes, funcionários e colaboradores desta grande Instituição, bem como com todos aqueles que nos queiram acompanhar na ajuda a quem mais precisa, integrando esta grande família da solidariedade.