EDITORIAL Nº 748 – 15/2/2019

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Caro leitor

DISCURSO NOVA ALIANÇA - ÉVORA
Vou falar-vos do interior.
A maior parte de vós não me conhece, mas decerto que a minha história é partilhada por muitos.
Eu nasci, e cresci, no interior do nosso país. Na Freguesia do Avelal, pertencente ao concelho do Satão - Viseu. Vivendo eu no centro, as fronteiras deste mundo eram a minha escola num extremo da aldeia e a casa dos meus padrinhos no outro. Vivia, na altura, num mundo que para mim tinha apenas 40km2.
Trabalhavamos na agricultura e, no entretanto, brincavamos na rua: ao peão, à malha e a outros jogos inventados. Conhecíamos bem, muito bem, os nossos vizinhos, que viviam da mesma forma que nós. Quando a comida que cultivavamos não chegava íamos ao mercado da D. Maria vizinha e quando se estragavam as roupas pedíamos novas à minha mãe, que tambem era costureira nas horas vagas. Havia na rua principal uma igreja (esta ainda existe), um posto dos correios, um hospital, um lar, um posto da GNR, três mercearias e um café. Chegava. Havia vida nas ruas e nas terras. A maioria de nós não tinha emprego mas tínhamos trabalho, que nos alimentava e nos dava o essencial.
Querendo eu isso, mas também mais prosperidade, para ter uma vida melhor, saí da terra e ingressei na então Guarda Fiscal. Depois de correr parte do País mudei-me para Mangualde, onde construí uma casa, uma empresa e uma família. Como eu, muitos conterrâneos meus também migraram.
Desde então que mesmo em Mangualde se começa a notar a ausência da juventude. Migram para Viseu, Lisboa, Porto ou para outras cidades maiores, até mesmo para o estrangeiro. Poucos são os que voltam depois de concluírem a faculdade. Os habitantes do interior são já uma raridade: uma realidade em vias de extinção.
A par e passo com o declínio populacional, ressente-se o comércio tradicional, os ofícios de prestação de serviços públicos e a indústria. É uma bola de neve difícil de combater. Fica a minha geração, e as anteriores à minha, para contarem a história e dizerem, com razão nisto, “no meu tempo é que era”.
São terras que pacientemente aguardam uma injecção de vida, que não virá se nada for feito. Acredito que nós, Aliança, possamos ajudar para combater esta realidade. A falta de vida é mitigada quando o “bom filho a casa torna”, com as visitas dos emigrantes e dos familiares, que vivem longe, por ocasião de férias e das festas.
Nota-se o declínio da economia local e perdem-se lugares e tradições. Criam-se então paisagens fantasma do que outrora foi. A natureza reclama o seu espaço de volta e onde há mais pessoas é nos lares. É triste.
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Os serviços públicos do interior têm vindo a ser encerrados, como as escolas, os bancos e os correios. Digamos que não ajuda estas regiões serem detentoras de poucos eleitores. Dá pouco incentivo a quem tem o poder de melhorar as suas condições.
Por outro lado, no reverso da medalha, temos as grandes cidades, que com o aumento populacional, não conseguem fazer face às necessidades acrescidas de infraestruturas e à pouca oferta de habitação a preços razoáveis. O custo de vida tem aumentado de tal forma que os recentes migrantes se têm radicado na periferia das cidades, enquanto lidam diariamente com o congestionamento no trânsito e nos serviços públicos.
Resulta que a promessa de maior qualidade de vida é uma ilusão, que se tem perpetuado nas novas gerações. Caro Pedro Santana Lopes é aqui que o Aliança é nova esperança.
As empresas privadas escolhem sediar-se no litoral, por ser benéfico ao negócio. Têm, nas proximidades, mão-de-obra qualificada e empresas que as auxiliam na atividade empresarial. Também os jovens se direcionam desde cedo para as grandes cidades, onde sabem ser mais fácil encontrar o emprego qualificado, para o qual estudaram, junto destas empresas.
Trata-se de um ciclo vicioso, em que nenhuma das partes, empregados e empregadores, têm incentivo em radicar-se no interior. Seguem-se um ao outro e ambos estão mais presentes no litoral por oposição ao interior.
Deve-se dizer que é uma fantasia acreditar que benefícios fiscais no interior são suficientes para combater esta realidade. A descentralização passou várias competências para o foro local, mas falhou em alocar os recursos financeiros necessários para que os municípios tenham esta autonomia e, por conseguinte, iniciativa em fixar as empresas no interior. Uma alternativa será concentrar os esforços de requalificação em certas zonas do interior com um nível de urbanização razoável, por forma a criar pólos de investimento, público e privado, e atrair as empresas e a mão-de-obra com oportunidades benéficas. Atualmente, 82% dos jovens com menos de 25 anos vivem no litoral. É preciso haver uma estratégia concertada e investimento com dinheiros públicos para inverter esta tendência.
É aqui que a iniciativa política Nós Aliança pode fazer a diferença e advogar a mudança do paradigma que até hoje se tem mantido. Reconhecer a importância da distribuição populacional e do crescimento por todas as regiões do nosso Portugal. Temos de combater a falta de vida no interior e a falta da qualidade de vida no litoral. Temos de garantir a equidade social e económica para o bem das nossas regiões e assim vivenciar 100% do que Portugal tem para oferecer, em vez dos quase 100% que o litoral tem. Acredito que juntos, em Aliança, possamos fazer a diferença e ter esta questão como prioridade para todos nós. Acredito que possamos reabitar as regiões mais desertificadas e conseguir uma melhor qualidade de vida para todos. Em Aliança conseguimos! Viva Portugal e viva a aliança!
Muito obrigado a todos.