PEDRAS PARIDEIRAS

juiz
Já tinha ouvido falar, há muito tempo, acerca das pedras parideiras, mas nunca tinha alcançado uma explicação que me elucidasse minimamente acerca do fenómeno. Por isso aderi, com muito agrado, a uma viagem para a região de Arouca, organizada pela Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em Lisboa, que tinha, entre outras, também a finalidade de observar tais pedras.
Na zona de Arouca, nas imediações do lugar de Castanheira, em plena Serra da Freita, existe um afloramento granítico com cerca de um quilómetro quadrado de extensão. Trata-se de um “fenómeno de granitização”, único no País e raríssimo em todo o Mundo. Supõe-se que este fenómeno geológico só se verifica em Portugal e na Rússia, numa zona próxima de São Petersburgo.
Na pedra mãe, que data de há mais de 300 milhões de anos, estão incrustados pequenos “nódulos” em forma de discos com um tamanho que varia entre 2 e 12 centímetros de diâmetro. Estes nódulos são libertados da rocha mãe devido às oscilações térmicas, nomeadamente à água que se aloja entre o granito e o nódulo, a qual, quando congelada, ao aumentar de volume, produz o efeito de uma cunha, e também devido aos efeitos da erosão. Na rocha mãe fica, como é natural, uma cavidade que marca o sítio onde ocorreu o “parto” e os nódulos espalham-se pelo chão. Os habitantes da aldeia de Castanheira chamam-lhe as pedras parideiras, por parecer que o afloramento granítico chega a “parir” pedras mais pequenas, como se fossem verdadeiros seres vivos. Na tradição ancestral da região, estes nódulos simbolizam fertilidade e, por isso, as mulheres da região, desejosas de ter um filho, chegam a colocar debaixo da almofada da cama onde dormem os nódulos saídos do granito com a esperança de poderem aumentar a fertilidade.
Já os povos que ali viveram na Idade do Bronze olhavam o fenómeno com muita curiosidade e parece que se contam a esse respeito inúmeras histórias.
Em Novembro de 2012 foi criada no Geoparque de Arouca a Casa das Pedras Parideiras, que é um centro de interpretação/núcleo museológico dedicado à elucidação desta ocorrência geológica existente na Serra da Freita. A Casa das Pedras Parideiras tem por objetivo contribuir para a conservação, compreensão e valorização deste importante património geológico, apoiando as visitas turísticas. Possui no espaço para a receção dos visitantes, uma loja onde se vendem produtos locais e um auditório onde é possível visionar um filme 3D “Pedras Parideiras: um tesouro geológico”, em que “alguns dos protagonistas são habitantes da aldeia de Castanheira”.
Acrescentarei, a propósito que, além das pedras parideiras, o visitante pode tomar conhecimento acerca das trilobites gigantes de Canelas (classe de artrópodes marinhos, com mais de 4.000 espécies fósseis da era Paleozoica) e dos icnofósseis do Vale do Paiva.
No exterior existe uma mostra a céu aberto. As pessoas podem ter contacto com a formação granítica, através de um percurso pedonal em madeira, que oferece também “uma visão ampla da magnífica paisagem envolvente”.
Geralmente pedem às pessoas que não se apropriem dos nódulos que saíram da pedra mãe para que seja possível mostrá-los aos futuros visitantes.