COMO SE VIVEU A ÉPOCA PASCAL EM TEMPO DE COVID 19

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Em diálogo com o Padre Paulo Domingues, o Renascimento descobre momentos da Páscoa vivida por um jovem Padre nas suas paróquias de Cunha Baixa e Mesquitela.
Segundo o Padre Domingues no Domingo de Ramos, celebrado, este ano, a 5 de Abril, a Igreja comemora a entrada do Senhor na cidade de Jerusalém. Assim, o sacerdote com toda a comunidade, junta-se fora da igreja e cada pessoa leva um ramo (alecrim, oliveira, ...) para que possa ser benzido. Assinala-se assim o início da Semana Santa em que se celebra o Mistério Pascal do Senhor, ou seja, a Sua Paixão, Morte e Ressurreição.
Na Semana Santa ou Semana Maior a Igreja celebra o Tríduo Pascal na Quinta-feira Santa, na Sexta-feira Santa e no Sábado Santo que se prolonga até ao Domingo de Páscoa. A Quinta-feira Santa tem dois momentos distintos: a Missa Crismal e a Missa Vespertina da Ceia do Senhor. Na Missa Crismal, presidida pelo Senhor Bispo, benzem-se os Santos Óleos - para a unção dos catecúmenos, dos enfermos e do crisma - e cada sacerdote renova as suas promessas sacerdotais, feitas pela primeira vez no dia da sua Ordenação Sacerdotal. Da parte da tarde celebramos, nas comunidades, a Missa Vespertina da Ceia do Senhor onde somos chamados a realizar o rito do Lava-pés. Recordando-se aqui três aspetos essenciais: a Eucaristia, o Sacerdócio e a Caridade.
Na Sexta-feira Santa celebramos a Paixão do Senhor, com a adoração da Cruz.
No Sábado Santo celebramos a Ressurreição do Senhor, na Vigília Pascal, na noite Santa. Esta celebração começa fora da igreja, com a bênção do lume novo, onde será aceso o Círio Pascal, que representa o Senhor Ressuscitado. Reza-se ou canta-se o Precónio Pascal. Na Liturgia da palavra proclamam-se as leituras do Antigo Testamento e os salmos, e canta-se o “Glória”. A seguir escuta-se a Epístola do Novo Testamento e canta-se o “Aleluia”. Segue-se o Evangelho e depois a homilia. Na Liturgia Batismal temos o canto das Ladainhas, a Bênção da Água e a aspersão da Assembleia, e algum batismo se for o caso.
No Domingo de Páscoa, temos, antes da Eucaristia, a Procissão da Ressurreição e, após a Eucaristia, o anúncio do Senhor Ressuscitado pelas ruas e de casa em casa, a chamada “visita Pascal”.
A Semana Santa com o Tríduo Pascal é o amago do Cristianismo e de onde tudo brota. Esta semana é a Fonte que sacia a sede a todos nós, cristãos. Ser um sacerdote jovem e a viver estes momentos com as suas comunidades é testemunhar o Amor de Deus, que é mais forte do que a própria Morte. Estas Celebrações estreitam laços e reforçam as amizades, tanto do pároco com as pessoas das comunidades, como também entre os próprios elementos da família e amigos, uma vez que há a partilha de sorrisos e de emoções à mesa nos momentos das refeições.
O COVID-19 veio alterar as nossas rotinas, diárias, ao nível do trabalho, da escola e também da forma como prestamos o culto a Deus, mas penso que na vida as dificuldades têm que ser encaradas como oportunidades de crescimento e de aperfeiçoamento do que não estará tão bem. O vírus obrigou-nos a ficar de quarentena e em confinamento, em casa e junto da nossa família. Como padre trouxe-me duas questões: como estar junto das comunidades que me foram confiadas, neste tempo de pandemia? Como é que o Centro Paroquial de Cunha Baixa vai prestar os seus cuidados agora?
No que diz respeito à vida paroquial com a Paróquia de Cunha Baixa (Abrunhosa do Mato e Cunha Baixa) e a Paróquia de Mesquitela (Mourilhe e Mesquitela) tive que reinventar a minha proximidade e a forma de me relacionar com as pessoas, comunicando por chamadas telefónicas, por email e usando os novos meios de comunicação tanto para a oração como para vivermos em Comunidade a Celebração das Eucaristias e do Tríduo Pascal, com ao padres António Clementino e Manuel Rocha.
Os católicos das paróquias, face às contingências do coronavírus, sentiram a Páscoa, como a Ressurreição de Jesus. Contudo, foi um fim de Quaresma diferente e uma Semana Santa diferente. Mas, como já foi dito, tivemos que reinventar e propor que cada família em suas casas fosse uma Igreja Doméstica, como nos recorda o Papa Francisco. Assim, surgiram propostas e dinâmicas, quer da nossa Diocese quer a título particular, para que cada família pudesse viver da forma mais profunda possível este Tempo Favorável, colocando cruzes nas suas portas ou jardins, com o desafio de as irem enfeitando, ou trocando o pano que as envolvia, consoante o dia e o momento litúrgico que estivéssemos a viver. A construção e ornamentação destas cruzes potenciou a criatividade e certamente o convívio familiar, tanto na construção como na elaboração de tantas mensagens sentidas, fruto de momentos de oração. Assim, inicialmente com um pano roxo, desde o Domingo de Ramos até à Quinta-feira Santa. Na Quinta-feira Santa propusemos a colocação de uma toalha, na Sexta-feira Santa uma coroa de espinhos e após a Vigília Pascal um pano branco em substituição do pano roxo, para marcarmos o momento da Ressurreição do Senhor. Estas dinâmicas tiveram uma adesão fenomenal por parte de milhares de famílias que aceitarem este desafio, a nível nacional e não só. Esta manifestação pública e atípica ajudou-me a compreender e testemunhar mais uma vez que para Deus nada é impossível. Agora estas cruzes ficarão com o pano Branco até ao Pentecostes.
Em relação ao Centro de Dia de Cunha Baixa, claro que foi um motivo de preocupação para a Direção da Instituição. Devido ao COVID-19 e por Decreto do Governo tivemos que colocar todos os nossos utentes que frequentavam a resposta de Centro de Dia em casa, passando, assim, a serem cuidados pelo Serviço de Apoio ao Domicílio. Mais tarde tivemos que reformular tanto as equipas de trabalho como a forma de cuidar dos nossos utentes, que foi mais um desafio que nos obrigou a usar a criatividade. Mas, Graças a Deus, a Instituição tem uma equipa coesa e forte. Após análises minuciosas, do contexto familiar dos nossos utentes, surgiu a ideia de criar um Call Center. Deste modo, pudemos ligar aos nossos utentes diariamente e garantir que se mantenham bem e que caso surja alguma necessidade, esta seja colmatada. Assim, pudemos estreitar ainda mais os laços com os familiares dos nossos utentes e conhecer ainda mais a sua realidade diária. Fomos caminhando e reorganizando os grupos de trabalho, o que despontou um maior esforço e dedicação por parte de todos, um ajuste das funções e uma humildade e coragem para a realização das tarefas diárias, tanto na Instituição como no Teletrabalho. E é assim que Deus nos dá as ferramentas para continuar de sorriso no rosto e ao final de cada dia com o sentido de missão cumprida.
Toda esta reorganização implicou também um desequilíbrio na conta corrente da Instituição. Contudo, sabemos que o Estado está atento e desejamos que a Segurança Social nos continue a apoiar e faça um esforço ainda maior nos próximos meses, porque somente juntos e em parceria é que poderemos continuar a assegurar os serviços de excelências da nossa IPSS, como também das outras IPSS e da Misericórdia do nosso Concelho.
Na relação que temos com os nosso paroquianos, sentimos uma boa relação, mas todos nós temos na vida obstáculos gerados pelas dúvidas e desânimos. Ninguém duvida, que as dificuldades destes tempos que vivemos, não sejam cruzes pesadas e muitas vezes “noites escuras” que sufocam a esperança. Mas, ao mesmo tempo, apontam para a possibilidade de uma vida nova e de um tempo novo, para a Páscoa onde a vida triunfa.
É importante não nos deixar vencer pelo cansaço, pela tristeza e pela desilusão, mas sim deixarmo-nos abrir à novidade, que Deus, constantemente traz para a vida de todos nós.
Hoje em dia, mais do que nunca, devemos imitar Maria, Mãe de Jesus. A hora, deste tempo em que vivemos, é de guardar todas as coisas no íntimo do nosso coração, de modo a não deixar passar em branco a transformação, que se realiza no coração e na vida de todos nós.
À Luz do Ressuscitado consigamos, também nós ter a coragem e determinação de continuar a viver. Cristo Vive e quer viver dentro de mim, de ti e de nós.
Vais impedir o Senhor Ressuscitado, de regenerar a tua vida?
Uma Santa Páscoa para todos!

À Vítima pascal
Ofereçam os cristãos
sacrifícios de louvor

O Cordeiro resgatou as ovelhas:
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.

A morte e a vida
travaram um admirável combate:
depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.

Diz-nos, Maria:
Que viste no caminho?

Vi o sepulcro de Cristo vivo,
e a glória do Ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.

Ressuscitou Cristo, minha esperança:
precederá os seus discípulos na Galileia.

Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos:
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.
(Sequência Pascal, após a 2º leitura no Domingo de Páscoa)