REFLEXÕES

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PATRIMÓNIO CULTURAL (2)
Iniciei este tema, numa abordagem simples em que a ideia fundamental era dar a conhecer, ou relembrar a existência das normas proclamadas na Carta de Veneza, para orientação das comunidades cientificas e outras, na salvaguarda e conservação do Património Histórico a nível mundial. Não pretendo transcrever e dissecar o documento, mas somente chamar a atenção para os Artºs. que se seguem a partir do 9 e dão as primeiras directivas para a execução de restauros que se pretendessem desenvolver em qualquer região do planeta. A UNESCO é a entidade internacional que superintende nessas acções. A quem desejar aprofundar esta temática bastará ir à internet e encontrará muito material informativo.
O que eu pretendo nas minhas reflexões é abordar algumas situações reais que nesses horizontes do “ material e imaterial” fui encontrando a cada passo ao longo do tempo. Na minha vida profissional fosse no ensino ou na prática arqueológica, deparei-me com inúmeros momentos de espantosa informação quando se deseja aprofundar e comprovar a razão dos factos determinantes duma qualquer solução arquitectónica ou execução de artefactos indispensáveis à vida quotidiana nos mais diversos campos e tempos. As áreas de trabalho que nós hoje apelidamos de design nas diversas dimensões e fins e a concepção gráfica, estão ao serviço da criatividade ao longo dos tempos, desde o homem mais primário, pensando por exemplo nos grafismos em rochas, nas pinturas das cavernas e também na resolução de problemas na construção dos abrigos, locais de culto e outros desde os mais rudimentares aos infinitos arranha céus dos nossos dias. O produto que se segue ao acto de criar vem a constituir o património seja de uma pessoa, dum grupo, duma sociedade, dum povo, consoante a circunstância e a época.
Voltando então à problemática da conservação e restauro de património construído, é este que neste momento me interessa, e respeitando as normas instituídas, era suposto que qualquer técnico que se assumisse restaurador estivesse inteiramente informado dos processos correctos de execução que conduzissem a um restauro de, e da verdade, porque um restauro a nível histórico não pode nunca, seja em que circunstancia for, enganar, induzir em erro o observador incauto ou menos informado. E para mim, e para outrem, conhecedores das normas que deverão orientar este género de trabalhos ficamos com um sabor amargo e desiludidos quando observamos erros de palmatória que nem sequer permitem uma futura correcção, tal é o descalabro. Já vi restauros de espaços arquitectónicos de há vários séculos que não são mais que uma reconstrução moderna de muros danificados pelo tempo e pelas vicissitudes da mão humana ao longo dos tempos. Para quem ama a mais autêntica verdade histórica e entende alguma coisa destes assuntos não pode deixar de assinalar os pontos negros destes trabalhos por mais respeito que tenhamos por quem se empenhou neles. Encontraremos pelo nosso país demasiados maus exemplos de que nos ocuparemos na próxima reflexão.
Maio 2020