Cultura Popular – Os Ranchos

aida correia
A era digital entra em força. Sem nos darmos conta a revolução digital já começou, antecipada, apressada por uma pandemia que todos tentamos escapar. A tecnologia evolui rapidamente ao serviço deste digital cada vez mais necessário.
E as nossas tradições? A cultura popular? Será que estão ameaçadas por esta nova era?
Quero acreditar que não. Temos que por a tecnologia e o tal digital ao serviço da nossa cultura.
A cultura popular, é do povo. É o que o diferencia. Dá o tom e a cor à sociedade. Resulta das suas crenças e do seus hábitos, que seguem as tradições usos e costumes do local onde se vive. São as manifestações que o povo recorda, produz e participa de forma ativa.
O nosso Almeida Garrett, na sua obra “O Romanceiro” dizia: “O tom e o espírito verdadeiro português, esse é forçoso estudá-lo no grande livro nacional, que é o povo e as suas tradições, as suas virtudes e os seus vícios, as suas crenças e os seus erros”. Palavras do Mestre!
Quando penso nisto, lembro-me dos Ranchos Folclóricos. Agrupamentos de carácter musical e coreográfico, por outras palavras, um grupo de pessoas simples que se junta e que têm o dom de fazer magia e nos levar numa viagem ao passado, representando as antigas tradições, os trajes populares e os artefactos mais usados nas suas atividades.
Transmitidos de geração em geração, os Ranchos Folclóricos são a personificação da nossa cultura popular e representam a identidade de uma comunidade.
A aldeia de Fagilde, na margem esquerda do Rio Dão, Concelho de Mangualde, tem o seu Rancho Folclórico -”Rouxinóis do Dão,” fundado em 1948 e reactivado desde 1994, é constituído por 50 elementos entre músicos, dançarinos e dirigentes.
Estes aspetos da nossa personalidade cultural, da nossa forma de ver, sentir e exprimir, criados pelo povo, ao longo de sucessivas gerações, constitui a nossa cultura não erudita, mas a popular.
Por esse facto temos a obrigação, o dever, de salvaguardar tudo aquilo que por herança recebemos, conservá-la e transmiti-la aos vindouros, para que se conservem e sobrevivam.
O escritor Stefan Zweig, figura da literatura mundial, escreveu num dos seus prefácios :- “Nós não devemos ocultar as coisas quando as vivemos, tomamos parte nelas. Devemos transmiti-las às gerações futuras para que possam continuar a aprender as lições dos seus ancestrais”.
Porém a tradição imóvel, não é tradição! As tradições, as tradições da nossa terra correm o risco de desaparecer. Só a criação de núcleos locais de defesa da cultura popular e a existência de instituições têm possibilitado a manutenção e até, em certos casos, um retomar das atividades. Temos que ter a capacidade de nos renovar constantemente, sem nunca nos perder-mos na evolução.