REFLEXÕES

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PATRIMONIO CULTURAL (8)
CITÂNIA DA RAPOSEIRA
Ao tentar fazer a retrospectiva do trabalho arqueológico desenvolvido na larga área da Citânia ficamos com uma longa estória a relatar, que não caberá nestes ligeiros artigos reservando-a por isso para descrições futuras com outra abrangência.
Então a segunda campanha de escavações veio a ter lugar no mês de Setembro de 1986. Toda a logística ocupava imenso tempo – antes de mais saber do apoio financeiro a conceder pelo IPPAR, pela Câmara Municipal e outros Organismos oficiais. Organizar toda a logística de apoio. De seguida selecionar os jovens estudantes voluntários, que começavam a revelar interesse neste tipo de investigação e para os quais entendíamos ser necessário reservar algum dinheiro para um bónus semanal que os deixasse entusiasmados. O trabalho feito debaixo de sol em pleno estio não era assim tão fácil de aceitar sem qualquer recompensa. A equipa era então constituída por “trabalhadores”, arqueólogos em part- time sendo um director dos trabalhos a tempo inteiro. Coube-me, assim, toda a planificação desta soberba empreitada ao longo de doze anos. Os campos de investigação arqueológica no País antes da década de 70 eram relativamente poucos, embora se soubesse que o território de Portugal albergava imensos locais, uns visíveis outros soterrados, com testemunhos da presença de povos desde a Idade do Ferro e alguns mesmo anteriores. No nosso concelho estavam sinalizados vários sítios, adormecidos num espaço temporal não se vislumbrando quaisquer autoridades que se preocupassem com a riqueza do nosso património cultural regional. Com o 25 de abril de 74 surgiram pessoas ou grupos com preparação académica capaz de quebrar a letargia que pairava sobre o País. E os movimentos começaram a surgir embora precisassem de tempo para se afirmarem e convertessem os seus sonhos em realidade. Aconteceu com a ACAB e seus dinamizadores. E assim nos vimos a braços com esta enorme tarefa. Para esta segunda campanha se efectivar em terrenos da quinta da Raposeira foi necessário reformular a difícil negociação com os proprietários que possuíam duas parcelas contiguas e que estavam a ser cultivadas. Uma estendia-se ao longo do caminho rural, a outra da mesma dimensão era colada a esta, separada apenas por uma linha de aveleiras e oliveiras. A existência de imensas árvores já com décadas de vida era uma enorme preocupação. Escavar até uma certa profundidade, sem as danificar seria muito difícil. De qualquer modo teríamos de respeitar os direitos dos donos escavando com muito cuidado contornando as grossas raízes. No final desta campanha ficamos com uma quantidade promissora de restos de muros que determinavam espaços identificados como um edifício de umas pequenas TERMAS ROMANAS. O futuro prometia…
Setembro 30 -2020