Democracia, em Portugal, rima com Demagogia

Ana Cruz
É visível o desfasamento do discurso político com a realidade. O uso de falácia fervorosa com argumentos utópicos a adotar - “…mais empregos para os jovens; mais rendimento para quem trabalha; mais acesso a serviços de saúde”- é apanágio de qualquer candidato com futuro na política. E o descrédito é tão avassalador, que falar em debates políticos remete a mudança de conversa ou de canal de televisão, porque “falam muito, mas nada fazem”. Mais facilmente aprecia-se um Cláudio Ramos ou uma Cristina Ferreira do que um líder político. Até se ironiza, que se a Cristina Ferreira fosse candidata a Presidente da Republica receberia mais votos que muitos “velhos do Restelo” da política!
Longe vão os tempos de debates políticos moderados por jornalistas acutilantes, (um deles, Miguel Sousa Tavares, que actualmente é comentador de um canal televisivo. As suas perguntas incisivas eram potenciadoras de muitos suspiros. De angústia por parte dos entrevistados, e de anseio por parte da audiência feminina!), com disputas entre líderes, sem pergaminhos ou diplomacias fantasiadas. O famoso “Olhe que não, Doutor, olhe que não!” de Álvaro Cunhal, foi e ainda é repercutido sob forma de satirizar uma resposta, sendo a sua origem no decurso de um explosivo debate com Mário Soares.
Hoje em dia, os jovens influenciados pela desconfiança, muitas vezes contagiada pelos pais e avós, afastam-se do tema político, como o diabo da cruz. “Votar? Pra quê?”, enquanto tocam desenfreadamente com o polegar no ecrã do telemóvel a votar em imagens e comentários de pessoas que não conhecem, como se fosse vital para a sua vida.
Qualquer jovem conhece a versatilidade da tecnologia e tem um telemóvel antes dos 10 anos, no entanto desconhece o que é uma sociedade participativa; o que é gestão pública; que significado tem a economia no seu dia â dia. Qualquer jovem só repara na influência da política quando saí de casa dos pais para iniciar a sua vida. Até lá há um aligeirar, quase um ocultar, de uma realidade obscurecida pela dificuldade em ter emprego e estabilidade para iniciar uma família própria. Cada vez mais há revolta dos jovens contra as gerações mais “sábias”, por terem omitido a importância das suas posições na sociedade, na economia, no sistema político. “Vai lá ver das alterações climáticas que nós vemos dos impostos e divisão do orçamento de Estado!” dito num tom condescendente e ternurento, dando “inocentes” dádivas à geração futura, como aumento de impostos e menos serviços públicos. Sim, é tão saber que os jovens de hoje não vão ter reforma, e que olharão para o céu dizendo: “Meu Deus, perdoai aqueles que não souberam fazer o que deviam! ”. Prosperidade, independência, estabilidade parecem palavras cada vez mais longínquas!