Refazer Portugal

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O ano de 2020 não tem corrido de feição por todos os motivos e mais alguns. Com a pandemia virá uma crise económica e social, esperemos que não seja agravada por mais uma crise do sistema financeiro em Portugal o que poderá demorar anos a resolver e custar mais uns valentes trocos aos contribuintes portugueses.
Para enfrentar estes enormes desafios esperava-se que houvesse coragem da parte dos políticos para a construção de uma sociedade com mais justiça social e em que a política estivesse ao serviço do bem-estar dos cidadãos ao invés de estar sempre dependente de interesses dos grandes interesses partidários (e dos calendários eleitorais!).
Assume particular importância a resiliência dos pequenos e médios empresários (e todas as famílias em geral!) que apesar da brutal carga fiscal que têm suportado nestes últimos anos, tudo têm feito para manter abertas as portas dos seus negócios, em alguns casos, sacrificando as pequenas (e já de si depauperadas) pequenas poupanças familiares. Numa análise a dez anos, a carga fiscal de Portugal foi das que mais cresceu em 2018 na OCDE tendo o país a sexta maior variação, passando de 31,7% do PIB para 35,4%. Um aumento de 3,7 pontos sem que se veja uma melhoria real dos serviços públicos.
Nesta grande viagem que é a vida, cada geração é chamada a viver tempos bons e tempos maus. Dos escombros desta pandemia devemos a todos os que lutaram diariamente por manter viva a esperança, um pais mais justo e mais equitativo, onde a meritocracia fosse uma realidade, onde houvesse uma verdadeira justiça, um sistema nacional de saúde devidamente equipado em termos humanos e materiais e liderado por gente competente…no fundo, o que devia sair desta tempestade era a oportunidade de refazer Portugal com um rumo bem definido, com todos no mesmo barco e ao mesmo nível.
A nossa memória coletiva e comunitária sabe o que de bem se fez mas também tudo o que de mal está feito. Esta pausa nas nossas vidas dever-nos-ia lembrar que todos fazemos parte de uma comunidade, uma comunidade humana diversificada e cheia de vontade de fazer um pacto intergeracional e com uma visão mais inclusiva do contributo das diversas gerações. Somos o que somos porque vivemos em comunidade, com todos os defeitos e virtudes, mas sobretudo com uma grande vontade de ser parte da mudança.
A verdadeira crise resulta da forma desproporcional como a distribuição da riqueza destrói a vida de milhares de pessoas que não encontram um futuro melhor em termos económicos e sociais. Custa-me ver alguns “abutres” a esfregar as mãos à espera dos milhões que vêm da Europa para recuperar a economia. Entristece-me ver um país que tinha tudo para ser mais rico ser liderado por gente sem capacidade para ver para além das palas partidárias e dos seus próprios interesses pessoais, veja-se o caso do hidrogénio em que vamos investir mais dinheiro que a Alemanha, pasme-se!
Muito se fala em mudança, sobretudo por alturas de celebrar o 25 de Abril, mas a verdade é que apesar dos lindos discursos feitos de chavões e frases feitas, nada se faz e continua tudo na mesma. Por mais apelas que se façam para “apurar tudo até às últimas consequências”, a verdade é que passando a espuma dos dias tudo se esquece e tudo se mantêm exatamente na mesma.
Após quase nove séculos, Portugal é e será, uma viagem que fazemos juntos e uma grande viagem é como um grande amor.