Tempo de Castanhas


O Outono aí está de dias mais frescos e mais curtos. É tempo de lareiras, conforto familiar e de castanhas assadas. Em todas as cidades, nas esquinas, os castanheiros enchem de fumo e de perfume a cidade. Cheira a castanhas!
Colhem-se nos imensos soutos das terras da Beira e é a rainha da festa. Possuimos a maior mancha contínua de castanheiros em toda a Península Ibérica. Aí nascem as qualidades Judia, Longal, Lada e Cota. A excelente qualidade da castanha portuguesa, leva a que seja elevada a sua procura a nível internacional. Cerca de 70% a 80% da castanha nacional destina-se ao mercado externo com enorme relevo na região de Trás-os-Montes.
Mas, já não bastavam as pragas e as doenças dos castanheiros, temos agora que ultrapassar esta pandemia que também implicou com as castanhas. A pandemia fechou as feiras de castanhas, onde se apresentavam inigualáveis, reluzentes e com um sabor que não existe em qualquer outra parte do mundo. Aí também há castanhas, mas como as nossas, não há!
A castanha é um “ouro”, uma espécie de volfrâmio, das terras do interior. E ressurge todos os anos como um pilar das economias das gentes do interior. Gente que vive do trabalho, de uma agricultura rudimentar e tem poucos apoios. Não há quem olhe com olhos de ver para o Interior.
Mas voltemos às saborosas castanhas.
A castanha foi, durante muito tempo, o principal alimento das populações rurais. O fruto, considerado no passado de inferior qualidade, era um alimento de eleição para os animais domésticos. A castanha que comemos é o fruto do castanheiro, uma semente que surge do interior de um ouriço. Mas, embora seja uma semente como as nozes, tem muito menos gordura e muito mais amido, o que lhe dá inúmeras possibilidades de uso na alimentação. Podemos comê-las assadas, cozidas, mas também em elaborados assados de carne, rojões com castanhas e até os célebres míscaros, outro pitéu, casa bem com as castanhas. Há quem faça sopa de castanhas, em alguns sítios considerada uma especialidade e há quem as guarde para mais tarde, as castanhas piladas, secas que se aguentam para além da sua época. Os doces, o pão e até receitas light com castanhas são uma opção.
A acompanhar as castanhas não podem faltar os saborosos vinhos do Dão e a geropiga, feita de bica aberta no alambique.
“No S. Martinho, mata o teu porco, prova o teu vinho.”
Também podemos juntar o tempo das castanhas, dos soutos ao Turismo da Natureza. Passeios ao ar livre e porque não colher castanhas.
Tempo de castanhas, tempo de saudades, de confraternização, que tanto nos falta nesta época, em que a pandemia nos bloqueia os afectos, esmaga a economia e nos cria desânimos e incertezas para o futuro.
O que será o mundo daqui para a fente?…