O desafio das economias


A pandemia forçou os diversos Estados a abrir os cordões à bolsa para evitar um agravamento do colapso económico, mas os esforços que cada um dos países está a fazer são muito diferentes. Para já, Portugal está entre os países europeus que menos gastam no combate à crise, arriscando-se a ser também um dos que mais lentamente regressa aos níveis de atividade económica anteriores à pandemia.
De acordo com os últimos dados oficiais, é nos chamados países avançados que a intervenção dos Estados foi mais significativa, com um impacto orçamental imediato equivalente a 7,3% do PIB, em média. Nos países emergentes este indicador fica-se pelos 3,8% e nos países de baixos rendimentos é de 2,4%.
Existem duas grandes explicações para o facto dos países avançados estarem a ser mais audaciosos com os gastos das suas finanças públicas no combate à crise. A primeira é que, em termos gerais, sofreram mais a incidência da pandemia, com a Europa e os EUA a destacarem-se. A segunda é a maior capacidade destes países para fazerem um esforço orçamental mais significativo, já que beneficiam de condições de acesso a financiamento muito mais favoráveis do que os restantes países.
O Governo de Portugal, por seu lado, fica entre os países que foi mais prudente foi na hora de tomar medidas com um efeito imediato negativo no défice. De acordo com as contas conhecidas até agora, as medidas apresentadas por Portugal conduzem a um agravamento do défice de 3,2% do PIB, um valor que fica bem abaixo da média de 7,3% registada no total das economias avançadas.
Contudo, os números do FMI revelam que, quando se olha para medidas sem um impacto imediato no défice, como a concessão de empréstimos e garantias, ou o adiamento da cobrança de impostos ou contribuições para a segurança social, Portugal já é dos países a tomar medidas mais ambiciosas, o que é revelador da fragilidade da economia perante esta crise e pelo facto de depender, em grande medida, de sectores como o turismo ou a restauração. Desta forma, o impacto no défice pode não ser imediato, mas a longo prazo, o Estado corre o risco dos empréstimos não serem devolvidos ou os impostos adiados não serem pagos. Vai-se empurrando o problema para a frente…
Portugal, tendo um rácio de dívida pública dos mais elevados e tendo passado recentemente por uma crise de acesso ao financiamento de mercado, terá menor espaço de manobra para deixar derrapar as suas contas públicas. Daí a necessidade de manutenção de uma gestão orçamental prudente, segundo o governo Português. Principalmente no curto prazo, existe o risco que estas diferenças entre os esforços orçamentais feitos por cada país se venham a refletir no desempenho económico conseguido e, designadamente, na velocidade da recuperação.
Não é de estranhar portanto, que as previsões que já estão a ser feitas para a evolução das economias europeias, nos próximos dois anos, colocarem Portugal entre os mais afetados pela presente crise.
Durante o Fórum do Banco Central Europeu, Vítor Gaspar, ex-ministro e atual diretor do FMI defende que os governos “não devem retirar apoios orçamentais de forma prematura”, mas alertou para défices e dívida, apontando o dedo à segunda vaga da covid-19. “Os perigos para a economia e o emprego são reais e cada vez maiores”, fez saber, “e a incerteza é enorme, outra vez”. Gaspar defendeu o investimento público mas salientou que se use o dinheiro disponível (os fundos europeus e juros ultrarreduzidos do BCE) de forma “produtiva” e que tudo seja feito com “transparência e responsabilidade”. Cá estaremos para ver