REFLEXÕES

PATRIMÓNIO CULTURAL (15)
CITÂNIA DA RAPOSEIRA
Todo o trabalho de escavações neste sítio específico proporcionou um conhecimento bastante correcto do que foi a ocupação romana no território. Também já referi anteriormente que este estudo foi desenvolvido por cerca de onze anos de 1986 a 1997 em cada mês de Agosto. Quando consideramos que estava terminada a descoberta da totalidade das estruturas que se encontravam para nordeste do caminho rural ficamos em mãos com uma situação que nos trazia intrigados. Naquele complexo intrincado de restos de muros e alicerces, ficaram também conhecidas diversas condutas construídas em pedra tornando-se clara a sua finalidade. Umas de condução ou aproveitamento de águas que mostravam o leito revestido com pedaços de pedra. Outras de descargas de esgotos com chão em terra já que ajudava ao escoamento através da infiltração nos solos. Ora naquela complexa rede de condutas ficou definida uma, a que chamámos GRANDE CONDUTA, que tinha o seu início no lado nordeste do complexo, mais concretamente apontando na direcção do escadório da Senhora do Castelo e atravessava todo o complexo construído. Questionando alguns proprietários de terrenos e pinhais viemos a saber que por aquele lugar teria existido uma “poça de água” muito antiga e que já se encontraria aterrada há muito tempo. Esta informação, embora vaga, sugeriu-nos uma pista possível para a existência daquela grande conduta. Considerando que o topo era fechado por uma laje colocada na vertical a qual apresentava um desgaste em meia cana, que nos levou a interpretar como vão de assentamento de uma canada ou tubo largo o qual traria a água dessa espécie de nascente. Isto sugeria que aquela grande conduta seria de abastecimento de água à casa e talvez para outras instalações ou para hortas que se situariam mais para sul. Perante estas evidências era necessário conhecer todo o seu percurso. Eventualmente poderia terminar num depósito, ou algo que possibilitaria a sua distribuição por diversas áreas. Mas escavando até ao caminho rural concluímos que a mesma continuaria por baixo do mesmo.
Era um outro problema. Teríamos de fazer sondagens num terreno de novo proprietário com o qual não havia qualquer contrato ou acordo nem se podia adivinhar qual a receptividade. Era mais um impasse que teria de se ultrapassar. Para facilitarem negociações pedimos a intervenção da Autarquia. Depois de algumas dificuldades foi-nos permitido fazer pesquisas junto ao muro numa extensão reduzida mas suficiente. Assim programámos a acção absolutamente convencidos que ali iriamos ter a resposta para a utilidade daquela conduta. Iniciamos os trabalhos mas tivemos uma grande surpresa que será descrita no próximo número. A partir daqui as incógnitas iam-se acumulando. Em trabalhos desta índole muitas vezes tem de se trabalhar sobre o abstrato, sobre o nada, por isso se tornam tão aliciantes. Iremos continuar…. para quem gostar destas estórias reais assentes sobre a história.

Janeiro 2021