Com este mesmo título publiquei no Jornal Renascimento de 15 de Junho de 2000, uma Crónica.
Mangualde teve e tem muitas figuras ilustres. Mas generosas tem poucas.
O Dr. Elísio Oliveira, Presidente da Câmara Municipal de Mangualde, publicou uma notícia em que comunicava ter falecido esta semana nos Estados Unidos da América, um ilustre mangualdense, Joaquim Duarte, um benemérito, que doou ao Município uma propriedade com 5.000 m2 junto ao Cemitério.
Elísio de Oliveira conta que o conheceu há dois anos, conversando com ele no seu Gabinete, para o convencer a doar à Câmara a densa e sombria mata junto ao Cemitério.
A resposta foi não, três vezes. Só à quarta vez veio o sim, com um sorriso largo e feliz.
Chamou-me teimoso e com toda a razão, diz Elísio Oliveira. Chamei-o, com gratidão, de generoso!
A densa e sombria mata deu origem a um simpático Parque – O Parque da Saudade.
Foi a enterrar, nos Estados Unidos no dia 8 de Fevereiro.
Elísio de Oliveira afirma :-“em nome da bandeira que empunhamos, renovo-lhe aqui , público agradecimento”.
E remata : - “À Família enlutada, especialmente à Sr.ª D.ª Emília , sua esposa, que o acompanhava, dirijo os meus respeitosos pêsames.
Obrigado e até sempre, Sr. Joaquim Duarte”.
Quis o acaso que este local oferecido pelo Sr.Joaquim Duarte, fosse histórico para Mangualde.
A tal Crónica publicada em 2000 era sobre o Dr. José Pessoa Ferreira, mangualdense, juiz e figura pública nessa época.
Republicano, em tempo de Monarquia, já que estavamos em 1908, publicou em Mangualde o Jornal Voz da Beira, onde inflamava a República.
Morreu novo este republicano e livre pensador, aos 35 anos e o seu funeral foi um acontecimento nessa época. Era meu Tio – Bisavô! O primeiro em Mangualde a ser enterrado civilmente.
Para aqueles que profetizavam que este livre pensador dificilmente teria seis pessoas para lhe pegarem nas argolas do seu caixão, enganaram-se redondamente.
Mais de três mil pessoas, segundo os jornais da época, acompanharam o caixão daquele homem até ao Cemitério.
No Cemitério o cenário foi imponente! Por todo o lado, uma multidão enorme, com serenidade escutava a voz dos oradores que atiravam palavras revoltas que ecoavam pela Beira Heróica, pelas suas encostas e fraguedos.
Entre os oradores, que quis honrar o acto com a sua presença, o Dr. António José de Almeida, que foi Ministro, Chefe de Governo e Presidente da República, que num discurso inflamado, afectuosamente escutado pelo Bom Povo de Mangualde, terminava assim :-“ Este homem morreu com as armas na mão na defesa do Povo. Imitemo-lo”!
Foram as fráguas, as terras sombrias, que o Sr.Joaquim Duarte, um Homem Bom, amigo da sua terra e dos seus conterrâneos, doou, carinhosamente à sua Terra, que abrigaram esses milhares de pessoas, esse povo Bom de Mangualde.
Paz à sua alma! O Bom Povo de Mangualde agradece!

António Fortes