REFLEXÕES

Património cultural (18)
Citânia da Raposeira
Estou a chegar à fase mais interessante destes trabalhos arqueológicos. Tínhamos definida toda a área construída. Era preciso fazer uma interpretação o mais correcta possível de todo o conjunto arquitectónico que se tinha revelado. Sempre com o incondicional apoio científico do nosso grande mestre da Arqueologia em Portugal – Senhor Doutor Jorge Alarcão digno professor da Fac, de Letras da Universidade de Coimbra e meu grande Amigo; e também com a representação do Instituto Português do Património Cultural, através do Director da sua extensão em Coimbra ( SRAZC) Dr Beleza Moreira analisamos todos os pormenores do achado tentando definir e relacionar as diversas partes de todo o conjunto ali construído o qual será descrito no próximo capítulo. Todos os meus Amigos arqueólogos estiveram entusiasmados com o decorrer destas descobertas por terras de Azurara. Ao longo das campanhas alguns pediram para participar na escavação pelo Amor que tinham à arqueologia – lembro os Amigos Drª Fátima Rebelo, já arqueóloga ao tempo, e o acabado de licenciar Francisco Faure nosso conterrâneo a quem orientei num pequeno curso de desenho de campo em planta e cortes verticais. De vez em quando apareciam por ali mais alguns curiosos sempre interessados em perceber o que tudo aquilo significava. Não me irei demorar em descrições de momentos importantes que reservo para outros caminhos, se houver tempo. Por agora pretendo dar a conhecer a interpretação que fizemos no final das descobertas. É evidente que no dia a dia das campanhas, nós íamos tendo a definição do que ia surgindo sob a terra que tão cuidadosamente escavávamos. Era mais uma pedra num ângulo de muro, era a evidência de uma lareira. Era aquele pequeno fragmento de cerâmica grosseira, um outro de cerâmica “rica” daquela só usada pelos senhores nos seus banquetes, a tão falada “terra siggilata”. Também, ali, um pedacinho de vidro marmoreado que teria pertencido a qualquer jarra ou cálice, uma moeda romana muito oxidada, mas de fácil leitura. Ou aquele pedaço de ferro que, apesar de envolto em ferrugem e terra, deixava perceber a sua forma, desde o foição para trabalhos de lavoura, ao cinzel de pedreiro… um sem fim de pequenas e grandes coisas a que nós, muito respeitosamente, apelidamos de “espólio”. Na verdade NÓS, os que sentimos na Alma o valor, mesmo que seja simbólico, destes achados queremos e temos de os cuidar com muito respeito… E exigir o mesmo dos outros que por qualquer razão os tenham de manipular… e aqui reside uma das nódoas mais negras na preservação daquelas “coisinhas “ que constituem os testemunhos ricos nestes trabalhos. Para as pessoas comuns que nada têm a ver com estes conhecimentos o assunto até é divertido….oh! mas tenho de tratar “bem” este caquito ?!! Pois tem e terá sempre, porque esse caquito é um pedaço duma peça com a idade de 2000 ou muitos mais anos e que pelo seu lugar na história deverá ser respeitado e cuidado com muito amor… Haja, então, Respeito pela História das Terras de Azurara e Tavares…
Fevereiro 2021