LAR DE S. JOSÉ – A INSTITUIÇÃO DO CONCELHO QUE SENTIU OS EFEITOS DA PANDEMIA covid19 LOGO NO INíCIO


No próximo mês de abril, fará 1 ano que surgiu o surto de infeção no Lar de S. José em Santiago de Cassurrães.
Renascimento falou com a Diretora Técnica da instituição, Drª Rute Pinto, que, resumidamente e em resposta às nossas questões, deixa uma imagem de como tem sido o dia a dia da Instituição neste último ano sob todas as contingências provocadas pela pandemia COVID 19.
RENASCIMENTO - À data de hoje, que é decorrido praticamente um ano, qual o sentimento pela situação que a Instituição viveu?
DIRETORA TÉCNICA - DRª RUTE PINTO - Decorrido praticamente 1 ano desde o primeiro caso Covid-19 na Instituição, o sentimento de perda continua presente em todos nós que vivenciamos toda esta situação de bem perto. Sofremos perdas humanas e afetivas que jamais serão colmatadas. Perdemos pessoas que faziam parte da “nossa família” há já alguns anos e, a sua morte nestas circunstâncias deixou-nos uma marca, que julgo, permanecerá para sempre, pois foram mortes que aconteceram devido a uma pandemia mundial. Existe, no entanto, um sentimento de Esperança que tudo volte ao normal e que um dia, este ano, não passe de uma má memória na história da nossa Instituição.

RENASCIMENTO - Atualmente como se encontram, que sentimentos têm os utentes, funcionários e quem está ligado ao Lar, uma vez que já existe a segurança de terem sido vacinados?
DRª RUTE PINTO - Atualmente, e tendo em conta que já todos os utentes e funcionários da Estrutura Residencial para Pessoas Idosas já se encontram vacinados, o sentimento de medo de podermos voltar a passar por uma situação idêntica à que vivenciamos há 1 ano atrás está agora mais desvanecido, e sentimo-nos um pouco menos oprimidos no quotidiano da nossa Instituição. No entanto, o sentimento de segurança ainda não está em pleno nas nossas ações nem nas nossas mentes, uma vez que o plano de vacinação ainda se encontra a decorrer e por isso ainda não está atingida a imunidade de grupo.

RENASCIMENTO - Como é a vivência dia a dia atualmente? Já está praticamente restabelecida a normalidade antes COVID, ou ainda há constrangimentos?
DRª RUTE PINTO - A nossa vivência atualmente é regida por algumas restrições e constrangimentos ainda que, de uma forma mais leve, tais como: os idosos estão sentados na sala de convívio com distanciamento social, a hora das refeições está definida por 2 turnos para que não se cruzem tantas pessoas no mesmo espaço, as funcionárias usam o equipamento de proteção individual necessário e adequado a cada situação, as visitas aos utentes são feitas por marcação e através de um vidro, e ainda, sempre que exista uma saída de algum utente, e desde que esta dure mais que 24h, os mesmos terão que cumprir um período de isolamento de 14 dias, ainda que, já tenham as duas doses da vacina contra a Covid-19.

RENASCIMENTO - Perderam muitos utentes com o surto que afetou o Lar. Como foi lidar com essa situação e como ficaram os utentes que sobreviveram?
DRª RUTE PINTO - As perdas que sofremos foram muito difíceis para todos nós, utentes e funcionárias, uma vez convivemos todos juntos várias horas por dia, e muitos destes utentes estavam connosco já há bastantes anos. São histórias de vida, vivências e memórias que se perdem quando um vírus se instala na “nossa casa”. Os outros utentes ficaram claramente abatidos e destroçados com estas perdas, mas tivemos que, todos juntos enquanto família institucional, encontrar força e coragem para continuar o nosso caminho, nunca esquecendo estas perdas que ficarão para sempre na nossa lembrança pela circunstância em que ocorreram.

RENASCIMENTO - Sentem que esta situação trouxe, de alguma forma, alguma reticência em relação a novos utentes que venham para o lar?
DRª RUTE PINTO - Confesso que inicialmente esse era um dos meus receios, mas felizmente isso não aconteceu e sinto que as pessoas não têm qualquer tipo de reticência em vir para o nosso lar. Suponho que o facto da situação que vivemos, ter sido à posteriori vivida por tantos outros lares, fez com que as pessoas percebessem que não éramos caso único e que, infelizmente, o vírus também acabou por afetar outras Instituições de igual forma.

RENASCIMENTO - Acreditam que a realidade que o mundo vive ajudou a modificar as pessoas de alguma forma, ou seja, sentem mais solidariedade, mais apoio para com a Instituição?
DRª RUTE PINTO - Efetivamente, criou-se uma onda de solidariedade e apoio para com a nossa Instituição, e agradecemos a todos quanto nos ajudaram e continuam a ajudar neste momento difícil pelo qual atravessamos.

RENASCIMENTO - Uma mensagem ou algo mais que queira deixar aos leitores do nosso jornal e à comunidade em geral
DRª RUTE PINTO - Infelizmente são tempos difíceis para todos. Estamos a atravessar um momento incerto em que precisamos evitar a rua e o contato humano para garantir o controlo da pandemia do Coronavírus (Covid-19). Ainda não sabemos quanto tempo isto irá durar, mas não podemos deixar o medo ocupar as nossas mentes. É tempo de ter esperança e de acreditar que dias melhores virão.
Deixar ainda uma palavra de agradecimento a todas as funcionárias pelo seu empenho, esforço e dedicação no cumprimento desta missão, pelo tempo que têm retirado às suas famílias, mas, sobretudo, pela sua coragem. Obrigado.