CONSULTÓRIO

A DOENÇA DE ALZHEIMER
Com o aparecimento da Covid-19, com a pandemia que lhe está associada, demo-nos conta da quantidade inúmera de pessoas (nem sempre idosas!) que vivem em lares de acolhimento, em residenciais para a terceira idade, ou outro qualquer nome que lhes queiram dar!
E, muitas dessas pessoas, estão ali, não porque são idosas, no verdadeiro sentido da palavra, mas porque sofrem de uma doença que lhes afecta a memória, o discernimento, o conhecimento… Outras porque, com o próprio processo de envelhecimento, têm um comportamento semelhante fruto da degenerescência do próprio envelhecimento!
Dar conta da Doença de Alzheimer sem se enganar!

Desatenções frequentes, perdas de objectos repetidas… parecem ser uma evidência da doença de Alzheimer. No entanto, muito frequentemente, estes sinais são simplesmente o reflexo de um envelhecimento normal da memória. Saber dar pela doença é permitir fazer-se um diagnóstico precoce. Ou, ao contrário, e mais frequentemente, parar de se inquietar sem razão. Como é que se vai distinguir o verdadeiro do falso?
Simples falha de memória ou doença de Alzheimer? – A inquietude respeitante ao risco de haver uma demência, em particular a doença de Alzheimer, tem vindo a crescer no meio da população. A partir de uma certa idade as queixas de falta de memória aparecem, mas é preciso saber distinguir a diferença entre uma falha de memória e um simples defeito de atenção. Memória e atenção são diferentes. Daí que possa ser importante, em caso de dúvida persistente, a ida a uma consulta sobre memória.
Queixa-se da sua memória? Provavelmente não deve tratar-se de doença de Alzheimer – Regra geral, uma pessoa com doença de Alzheimer não se queixa de perturbações da memória. Com efeito os testes de Alzheimer ou testes de memórias distinguem entre alterações da atenção (ligados à idade, a uma depressão…) e uma verdadeira perturbação da memória, ou seja, a incapacidade de transformar uma informação numa recordação. Isto pode parecer paradoxal, mas o doente de Alzheimer, mesmo no início da doença, não se dá conta do seu estado. Ele pensa, ao contrário, que a sua memória está normal, pelo menos tanto quanto a de uma pessoa da sua idade.
As perturbações da atenção nem sempre são, forçosamente, a doença de Alzheimer – Passada a idade dos sessenta é muito fácil meter um problema de atenção no mesmo saco da doença de Alzheimer. A verdade é que somos muito solicitados na vida do dia-a-dia e estamos constantemente a fazer uma triagem entre as informações primordiais e outras que parecem ser secundárias, banais. Esquecer onde deixámos os óculos não é forçosamente um sintoma de doença de Alzheimer, em particular quando, por exemplo, a nossa atenção foi desviada, ao mesmo tempo, pelo toque do telefone. Além do mais, as perturbações do sono, mais frequentes nos idosos, contribuem muito para as perturbações de atenção. Assim como a depressão, com o seu ressentimento emocional doloroso, as suas ruminações. A pessoa depressiva, centrada no seu sofrimento, tem grandes perturbações de atenção e de concentração. O mesmo se passa nos estados ansiosos, onde a atenção é captada de modo superficial e a pessoa não a retém. Também certos medicamentos, como as benzodiazepinas ou os medicamentos anticolinérgicos (antiespasmódicos gastrointestinais ou urinários) podem bloquear as fontes da atenção.
Esquecer o nome de uma pessoa será, forçosamente, a doença de Alzheimer? – Sabe-se que a doença de Alzheimer anda sempre atrás das recordações mais antigas, mas não do que se fez há alguns dias, ou há algumas horas. Contudo, esquecer o nome de um amigo de longa data não significa que seja uma demência de Alzheimer; é mais a síndroma da “ponta da língua”: “eu sei que sei mas tenho dificuldade em que me saia o nome que está aqui na ponta da língua”. É muitas vezes sinal de uma incapacidade em activar as estratégias de recuperação de informações já armazenadas. Ela depende da integridade de algumas regiões do cérebro, em particular na zona frontal cuja actividade pode diminuir gradualmente com a idade.
Mudanças de humor, sinais de depressão, serão uma doença de Alzheimer? – Mais do que as modificações de carácter são, acima de tudo, as mudanças de comportamento que são sintomáticas duma doença de Alzheimer no seu início. Será mais uma tendência para fazer menos coisas, a fechar-se sobre si mesmo, a isolar-se, a ter menos iniciativas. Mas atenção, estes sinais são também frequentemente interpretados como um estado depressivo e a pessoa com Alzheimer pode apresentar uma apatia sem estar depressivo
Dificuldade em se exprimir, é doença de Alzheimer? – À priori não, habitualmente não tem nada a ver. Mas nas formas atípicas de Alzheimer existem certos sinais particulares e pouco habituais de alterações da visão e de linguagem. Trata-se de uma afasia progressiva, uma espécie de mutismo que se instala a pouco e pouco, com uma dificuldade em encontrar palavras ou em as articular.
Adaptado de entrevista feita por Helène Joubert ao Professor Bruno Dubois (neurologista hospitalar, em Paris)