
(continuação do numero anterior)
Magra mas esbelta, formosa quanto baste, trazia sempre como num fatal desígnio da natureza a sua trança escura em desalinho num perfil de pura melancolia. Voz cristalina como a água do rio, graça de saudosa e mística donzela. Seios pequenos, voluptuosos de ilusão recordavam a imagem dos outeiros e vales que se infiltravam na sua alma e á noite o luar prateava. Era a moça mais linda daquele pitoresco lugarejo e vislumbravam-se nos seus olhos as lendas, os sonhos e os milagres daquele monte misterioso como gota de orvalho á luz da aurora entre uma nuvem e uma lágrima hesitante. Era a gentil camponesa cheia de graça e beleza no seu simples vestido de lã pura, bem lavado cheirando a alfazema e tomilho que uma capucha de burel escondia nos dias de frio sincelo e chuva. Era a genuína serrana. Na intimidade do silencio do monte apenas quebrado pelo tenido dos guisos das ovelhas e os chocalhos das cabras, como borboletas esquivas que vão e vêm e se afastam de novo, Zé das Trindades e Maria Rosa apartavam o gado
- Como se chama vossemecê?! …
- Sou a Maria Rosa (e um leve rubor lhe aflorou á face)
- Eu sou o Zé, o Zé das Trindades. Um criado ao seu dispor. Venho de uma aldeia aqui em baixo, Darei e conheço bem a quinta de Darei que é tão bonita como a aldeia de vossemecê.
- A minha é mais linda. Vocemecê ainda não conhece a sua graça.!! …
E neste simples linguarejar de uma simplicidade enternecedora, germinava uma semente, pequenina como um grão de mostarda, crescia o embrião de uma rústica cumplicidade como alma que vai ficando eternamente enamorada - Amanhã vou ficar lá “arriba“ no abrigo daquele vale …ali (e apontava com o cajado um pequeno valeiro verdejante a um pulo de lobo). Vou levar o gado um “coxito“ mais “árriba“, mais perto do “picôto”
(continua no próximo número )