A propósito das obras do Mercado 2 de Maio em Viseu


Ainda sou do tempo em que se vivia o “antigo” mercado 2 de Maio. Nos meus tempos de meninice, as pessoas acotovelavam-se nas bancas, os vendedores conheciam os clientes pelos nomes e até os proprietários dos restaurantes se vinham aqui abastecer! A azáfama era tal que as ruas estavam lotadas de carros e carrinhas. Recordo com saudade esses dias em que a D Gracinda, de uma das bancadas da fruta, me tratava carinhosamente pelo meu diminutivo. Aqueles telheiros que lhes serviam de abrigo no Verão e no Inverno eram um ex-libris! Nos dias de hoje, quando visito a praça da fruta nas Caldas da Rainha (antes da pandemia), recordo-me desses dias.
Agora, com o início das obras de cobertura do mercado, eis que alguns movimentos sociais e culturais se manifestam contra a proposta de remodelação aprovada pelo município de Viseu.
Em primeiro lugar, julgo que o espaço em causa deve ser repensado e melhorado. Só quem nunca andou naqueles cubos de granito no piso inferior pode pensar que aquilo estava bem. Esteticamente era muito bonito, em termos práticos, era um concurso para ver quem não torcia o tornozelo. Mas em todo o mundo as grandes obras de autor podem ter defeitos. Esta também os tinha mas era fundamental encontrar soluções que respeitassem o lugar, a construção em redor da Praça e o centro histórico da cidade. A autarquia não podia ignorar os projetistas da reabilitação anterior, Álvaro Siza e António Madureira.
Em segundo lugar, esta saga da remodelação do mercado 2 de Maio e a sua cobertura já anda a ser falada desde que este executivo tomou posse. Também já houve um concurso de ideias, um debate público em 2014, um concurso público internacional em 2015, o parecer favorável da DRCC - Direção Regional de Cultura do Centro (emitido em 22/11/2019), a aprovação por parte da Câmara Municipal de Viseu (em 23/12/2019) e o visto do Tribunal de Contas (concedido em 29/10/2020). Houve tempo para muita indignação mas agora que as máquinas já levantam a calçada é que a confusão se instalou.
O projeto foi aprovado com 60% de fundos comunitários, e, por incrível que pareça, mereceu o parecer positivo da Direção Regional da Cultura do Centro. Na minha modesta opinião, a remodelação devia centrar-se apenas no piso inferior e, a ser feito, com valores bem mais modestos para que a Câmara não tivesse de contrair empréstimos para esta obra, ainda para mais, numa altura em que as famílias e as empresas mais precisam do apoio da Câmara. Lembremo-nos do escândalo do aumento das tarifas da água no início de 2020.
Posto isto, a obra vai avançar, e se tudo correr como o planeado terminará em 2023 e nessa altura, Viseu terá uma “estufa” cheia de painéis fotovoltaicos para ser usada como praça da restauração e eventos. Até lá, os viseenses e sobretudo os comerciantes e moradores da zona, vão ter de conviver com obra. Depois, terão de conviver com a armação de ferro e vidro e com o barulho das festas, isto se resistirem durante a obra.
Aguardemos o início do debate sobre a cobertura do Adro da Sé!