Imunidade de grupo ou confiança no sistema?


O conceito é simples: se grande parte da população for vacinada ou tiver recuperado de uma infeção, há uma maior probabilidade que essa infeção\ doença não disseminar, criando uma proteção de grupo. Quem não teve a doença, ao ser vacinado, tem uma maior probabilidade de não adoecer, ou então caso isso ocorra, terá sintomas mais atenuados e uma recuperação mais breve. E quem beneficia destes fatos, são as pessoas que não foram vacinadas por variados motivos, mas por a infeção ter menos prevalência na comunidade, vão ter menos probabilidade de entrar em contato com a doença. Probabilidades, expectativas, suposições…. Sim, estamos a falar de Matemática! Não estamos a descrever a doença do individuo ou a sua recuperação, estamos a descrever a evolução da doença numa população segundo algumas condições sociais, culturais que essa população está exposta.
Supostamente, a evolução de uma doença varia consoante o acesso aos cuidados de saúde da população, mas há um fator que cada vez tem sido mais distinguido, que é a distribuição desses mesmos cuidados de saúde. De fato, a visão organizacional da distribuição das vacinas retrata uma gestão dos múltiplos recursos para atingir um objetivo: criar um beneficio coletivo.
Desconsiderar áreas que contemplam a mais valia da população, trouxe apenas desconfiança e descrença num sistema que se diz democrático e solidário! Saber que há um médico para tratar da minha saúde, mas ignorar que existe uma equipa que o suporta, é desmotivante e promove a indiferença. Equivale ao conto do “Rei vai Nu”, todos sabiam, mas tinham receio das represálias e das consequências de serem sinceros… A organização e desempenho do SNS depende não só dos profissionais de saúde, mas de todos que apoiam o processo. Desde o motorista que transporta, até ao farmacêutico que prepara. Desde o técnico de informática que facilita a leitura da informação dos processos médicos, até à telefonista que esclarece dúvidas…. Confiar é reconhecer que o outro pode me ajudar; confiar é prever que a atuação do outro é para meu beneficio.
Criar imunidade da corrupção existente pode ser morosa, mas compete a cada um de nós a erradicação da indiferença que alimenta tanto egos e promove tanta injustiça. Este será o maior prémio que o SNS poderá ter da população que abrange: a sua confiança.