REFLEXÕES

Património cultural (19)
RUINAS ROMANAS DA QUINTA DA RAPOSEIRA
Quem me tenha seguido nos artigos dedicados às escavações arqueológicas na quinta da Raposeira, talvez tenha reparado que hoje substituí a designação de “citânia”da Raposeira. Também já apresentei anteriormente a minha interpretação do título que parecia ter uma abrangência desconexa com o que agora se conhece daquela área. Temos sim, um território com cerca de um quilómetro desde a antiga estrada para Fornos de Algodres, (ou Bairro do Modorno área onde, dizia-se, que há muitos anos já se havia encontrado um tesouro em que abundariam moedas ) até pelo menos ao sítio onde se encontra construído o actual Pingo Doce. A Norte, Nascente e Sul envolveria o sopé do Monte Sra do Castelo descaindo para a ribeira da Lavandeira. Pelos vestígios que fui detectando ao longo das minhas pesquisas visuais em toda esta área, ficaram sinalizados vários pontos onde existiriam construções romanas dando a confirmação, que por toda a área mencionada, se ergueria uma povoação romana. A sua área de implantação neste território não é verdadeiramente conhecida pelo pouco trabalho de pesquisa arqueológica feita ao longo dos tempos, com excepção para as recentes escavações que tenho descrito. Também não me parece que venham a ser desenvolvidos trabalhos no futuro em quaisquer outros pontos. Porque… quando da construção da actual avenida Sra do Castelo pressentimos que o progresso iria dar uma machadada ao que restaria da povoação romana. Lògicamente, quando se abre uma artéria por áreas ainda pouco ou nada edificadas, de imediato aparece o interesse imobiliário que se irá encarregar de revolver terras e tudo destruir com o poder das retroescavadoras. Quando em 1986 já tínhamos os primeiros vestígios de um edificado romano, ficamos alarmados, porquanto prevíamos o desastre cultural que se iria verificar não havendo mais hipótese de desenvolver quaisquer outros estudos por ali. Nos anos que se seguiram fomos tentando mapear evidências através da observação da imensa quantidade de fragmentos de telha (imbrices e tegulae ) e tijoleira (later) romanas, bem como fragmentos de louça grosseira que travavam as pedras talhadas e faceadas ao estilo romano na construção dos muros de propriedades e outros vestígios de “cacos” à superfície dos terrenos cultivados. Era evidente a necessidade de medidas que permitissem um estudo prévio antes que tudo ficasse arrasado. Qualquer decisão deste tipo teria de ser sancionada pela entidade superior IPPAR e foi pela sua extensão em Coimbra (antigo SRAZC – Serviço Regional de Arqueologia da zona Centro) através do seu Director, que em reunião de Câmara se decidiu assinalar na planta de 1/ 2o.ooo,através de ponteado, os sítios onde eram mais densos e evidentes os vestígios atrás descritos. Esta planta ficou a fazer parte dos Serviços Técnicos da Câmara. E para quê? É que através de Norma Autárquica, criada, qualquer pessoa que pretendesse construir em qualquer terreno da zona ponteada teria de pedir licença para SONDAGENS PRÉVIAS. Para quê? Podermos avaliar o potencial, ou não, arqueológico do lugar em questão. Esta medida foi dum alcance extraordinário, acho mesmo que foi única no País…no entanto, com virei a descrever, de pouco serviu. E a destruição seguiu em frente sem quaisquer obstáculos.
Março 2021