Eleições autárquicas – o desencanto com os partidos políticos (e o fenómeno do Chega)

Em ano de eleições autárquicas, todas as máquinas partidárias aceleram para apresentar os seus candidatos. Distrito a distrito, concelho a concelho, freguesia a freguesia, as diversas estruturas partidárias fervilham em contactos e entram em ebulição.
Enquanto uns ficam mais satisfeitos por ver os seus nomes escolhidos por encabeçarem a lista e com autonomia para escolherem os restantes, outros, dececionados e desapontados por se verem relegados para segundo plano, ou se resignam e aceitam ser segundas escolhas ou vão à luta noutros partidos ou mesmo como independentes (vamos ver o que vai dar a revisão desta lei!).
Para o cidadão que acha que os partidos são todos iguais e quem os representa não faz parte da solução mas sim do problema, vê no surgimento de novos partidos e de novos movimentos independentes uma alternativa, isto, porque baseiam o seu discurso numa estratégia antissistema e contra a corrupção. Nesta complexa equação, destaco o partido Chega que pela primeira vez se vai apresentar em eleições autárquicas e pode ser a grande surpresa na próxima noite eleitoral.
Após as últimas eleições legislativas, em que elegeu o seu primeiro deputado, que o Chega não perdeu tempo e, ao mais alto nível, tem feito convites a inúmeras pessoas, mais ou menos conhecidas, procurando aumentar a sua exposição mediática.
É neste enredo em que há um claro desfasamento entre a sociedade e a política, em que os partidos políticos estão sob suspeita permanente, em que se fecharam à sociedade, em que a democraticidade interna é limitada, onde faltam mecanismos de participação eleitoral, com falta de transparência financeira e uma clara falta de respeito pela divisão de poderes que vamos a votos em ano de pandemia.
Num país em que a partidocracia foi colonizando e aprisionando o Estado, fica cada vez mais claro que o eleitor comum, que não tem interesse na política nem vive de favores políticos, quer à frente da sua Câmara Municipal ou Junta de Freguesia um presidente honesto e sério, competente e dedicado.
Como em muitos casos isto não tem acontecido (felizmente ainda existem bons exemplos!), há um afastamento objetivo dos cidadãos das eleições, dos partidos e da política. Uma deslegitimação de instituições e eleitos, que aumenta a desilusão e a descrença nas instituições criando um terreno fértil para a demagogia e para os populismos há esquerda e há direita.
Pior do que isso, a política e a democracia desvalorizaram-se fruto da incompetência de vários governantes. Desde o governo nacional à política local existem variadíssimos exemplos. Incapazes de resolver os problemas por si criados, os governantes em vez de mudarem de estratégia prosseguem alegremente a caminho do precipício e quando os tempos são de grande imprevisibilidade devido à pandemia e às suas consequências, isto torna-se duplamente problemático.
Não admira portanto que possam surgir grandes novidades nas próximas eleições autárquicas, que, na minha modesta opinião, deviam ser adiadas para evitar o agravamento da pandemia.