Fazer vivo o legado de Almeida Henriques em Viseu

Por: Jorge Sobrado*

Agradeço o convite do “Renascimento” para exprimir alguns pontos de vista sobre o legado de António Almeida Henriques, presidente da Câmara Municipal de Viseu entre final de 2013 e o início fatídico deste mês de Abril de 2021, na qualidade de seu antigo colaborador e vereador.
Não sou mandatário da memória do presidente António Almeida Henriques, mas apenas de mim próprio. Fui testemunha, ajudante e ator do seu percurso, durante quase 10 anos. Entendo que esse legado em prol de Viseu, cidade e região, é um bem público e não pode ser desperdiçado, merecendo continuidade e reinterpretação.
A perda de António Almeida Henriques é irreparável, no plano pessoal e político. Mas o seu legado não deve ser dado por perdido. Não sendo isento de problemas e erros, é um projeto de modernidade e futuro para Viseu. E isto nada tem que ver com questões partidárias, bem pelo contrário. Nenhum partido – só por que sim – se pode arvorar à condição de herdeiro. Tem que fazer por isso.
Sabemos ainda por experiência própria que a Política se dedica frequentemente a vazios discursos protocolares. Os “discursos públicos” escondem muitas vezes “preguiças privadas”. Ora, no que respeita à vida e obra de Almeida Henriques, tais discursos devem dar lugar a ações concretas que façam viva e relevante a sua transformadora herança em Viseu, na última década.
Essa transformação deixa sobretudo marcas positivas em áreas sensíveis como uma cultura de governação mais tolerante, participativa e influente em redes nacionais e internacionais; o desenvolvimento económico, a atração de investimentos empresariais nas áreas tecnológicas e da Saúde; e as apostas estratégicas na Cultura, no Património e na afirmação de Viseu como destino turístico de excelência.
“Pôr Viseu no mapa” foi mais do que um slogan. Tratou antes de conferir um pulmão de reconhecimento e uma centralidade à cidade e ao concelho de Viseu, que lhes devolvessem
melhores condições de investimento e emprego, atração de novas atividades e talentos, dinâmicas criativas, de promoção e de aprendizagem em áreas em que Viseu revelava atrasos ou anacronismos.
A valorização desse legado vivo passa, quanto a mim, por três eixos fundamentais de intervenção: o nome, o pensamento e a ação.

“O nome de António Almeida Henriques ao Polo Arqueológico de Viseu”

No plano do “nome”, importa promover a memória. Iniciativas como a que hoje proponho na Câmara Municipal – para a atribuição do nome de António Almeida Henriques ao Polo Arqueológico de Viseu – exprimem este sentido. A atribuição do “Viriato de Ouro” (a mais elevada condecoração municipal), o lançamento de um prémio sobre projetos de “smart cities” (temática da predileção política do antigo Presidente), a publicação do Dicionário das Figuras Viseenses (para quem amava Viseu como ele) ou a atribuição do seu nome à Orquestra Juvenil de Viseu (cuja criação patrocinou) são outros exemplos.
No plano do “pensamento” trata-se de perpetuar e debater as linhas estruturantes e mais distintivas do seu discurso. Oportunamente, será lançado um livro de textos de opinião do antigo autarca, mas a essa publicação poderão ser associados projetos como um laboratório de ideias ou centro de estudo sobre Viseu e políticas locais, ciclos de conferências ou futuras edições de fóruns e orçamentos participativos, nos quais a sua ação foi uma sementeira transformadora.
O plano da “ação” constitui o maior território a explorar. Aqui cabe a evolução de programas de humanização e democratização da cultura e das artes, da educação, da saúde pública e do emprego. A edificação de um “centro de criação” artística local, a promoção de emprego inclusivo na área da deficiência, a extensão e capacitação do “VISEU EDUCA” (com um programa voltado para a promoção da Saúde Pública), a execução do VISEU ARENA ou a adoção de um programa mais articulado entre as vertentes de classificação e reabilitação de património local, são exemplos de medidas de ação que honram e estendem este legado.
A responsabilidade de gerir esta herança cabe, em primeira instância, ao município de Viseu e ao seu “executivo”, mas importa também a outras instituições locais, intermunicipais e regionais, e aos partidos moderados, a começar naturalmente no PSD, que não deve fazer letra morta do programa que levantou como bandeira em anteriores eleições autárquicas, mas também no PS que se revê tradicionalmente em muitas destas causas.
Cada um deve assumir as suas responsabilidades e as consequências do que se construiu em Viseu na última década, sob o impulso e liderança de um homem visionário e de ação. Porque é justo e bom.

*Vereador do Município de Viseu. Antigo assessor e adjunto de António Almeida Henriques