MONTE DA SENHORA DO CASTELO – UMA BÔLHA DE AMOR


(continuação do número anterior ) 

  • Trate-me por Rosita, que eu gosto, é como me chamam no meu lugar… 
  • Mas a minha nódoa não é negra… é cor de oiro, reluz como o sol e tem a forma de um coração de fogo, como aquele que começo a sentir por vossemecê!!!…. (Rosita fingiu não ouvir e desviou o seu olhar flamejante). 
  • Outro dia quando o pasto escassear, vamos com o gado para as margens do rio do Coval e visitamos os moinhos movidos pelas suas “áugas». E entre ramalhetes de sorrisos frescos viveram as cores de um meio-dia faiscando na luz meridional, na cumplicidade de um amor crescente. E pela primeira vez sentados num penedo as suas mãos se tocaram, se uniram e se trocaram as primeiras palavras de amor como flores roubadas antes do tempo. A atmosfera do monte envolvia-os na sua bôlha de amor. E exprimiram nos lábios numa boca vermelha, rosa ainda em botão aquilo que os corações sentiram, as luzes dos seus olhares extasiados abrangeram num momento a vida eterna, um beijo que lhes acendeu o sangue alvoroçado como fonte latejante no seu murmúrio de glória. 
  • Rosita, vejo na face de vossemecê uma rosa viva, de uma roseira em flor. (fiel ao amor jurado deixava que todos os encantos lhe mirrassem o corpo numa resignação digna e discreta, era já uma flor dos vales desprendida.  
    E já a tarde descia pensativa e doce e o sol mergulhava para lá da linha do horizonte, lá nos casarios dos Passos, longos verdes da paisagem e quando as nuvens passavam a mão por cima da luz, ficaram tristes como um pôr de sol, quando esfriava o fundo do vale e já sentiam o entrar da noite como uma borboleta pela janela  
    (continua no próximo número)