REFLEXÕES

PATRIMÓNIO CULTURAL (21)
Ruinas romanas das Quintas da Raposeira
Falei eu no artigo anterior que na década de 1990, pelos anos 94-95, e pela necessidade da protecção que se pretendia impor nos prováveis achados em toda a área de ocupação romana, se criara um protocolo entre a Autarquia ao tempo e o IPPAR, no sentido de se desenvolverem acções que proporcionassem o conhecimento antecipado do que poderia eventualmente existir no sub solo. Para melhor nos situarmos elucidarei da designação que foi sendo atribuída ao longo dos tempos às diversas propriedades do sopé do monte. Começo pelas já tão faladas Quintas da Raposeira que se subdividiam em várias propriedades de extensão diversa, (compreenderia os terrenos entre o actual Pingo Doce, descendo à ribeira da Lavandeira, subido até às actuais ruinas. Antes da abertura da Avenida Senhora do Castelo encontrava-se junto à quinta hoje pertença do sr. Dr. Lúcio Albuquerque, um aglomerado de grandes penedos por onde se distribuía, escavadas na rocha, um conjunto de sepulturas antropomórficas (data provável sec. IX) . Os grandes penedos foram destruídos pelas máquinas levando consigo para mais de uma dezena de sepulturas restando, sòmente, duas ou três em rochas rasas em propriedades privadas. Esta zona era conhecida por quintas das Campas. Temos ainda a Quinta da Fonte do Púcaro, a Quinta da Regateira e a Quinta da Soeima. Isto no sentido Poente / Nascente. Cada uma destas quintas eram subdivididas em pequenas ou médias hortas ou talhões pertencentes a vários donos e agricultores. Os terrenos da Quinta da Fonte do Púcaro, estendiam-se ao longo do caminho ( provável via romana) e alargando-se para a hoje designada rua da Soeima, mais para Poente. Por último identificámos a Quinta da Regateira cujos terrenos se distribuíam pelo sopé do monte ladeando a linha de água da ribeira da Lavandeira e também acompanhando o traçado da via romana, já referida. Identificar esta distribuição sobre a planta topográfica de 1:20.ooo, não foi fácil e não deixamos de aceitar alguns prováveis erros, já que a informação era apenas a que íamos recolhendo no terreno junto de alguns proprietários e, por vezes, não seria muito exacta. Pensamos, no entanto, que estaremos bem próximo da verdade. Cabem-me agora algumas notas quanto às vias romanas em toda esta área. Temos poucos testemunhos porque a oportunidade de melhor investigar este capítulo, acabou quando se deram por terminadas as escavações no Campo Arqueológico em 1997. Temos porém algumas certezas –a via romana que serviria o trajecto para esta localidade vinha das terras para lá da Serra da Estrela. Aqui próximo apanha- se em Almeidinha passa pelo sopé do monte vindo nestes tempos próximos a ser cortada pela actual Rua Tojal D’Anta, seguindo em direcção às quintas Fonte do Púcaro e Raposeira. Teremos sempre de lamentar o que se faz aos documentos vivos da nossa História em abono do Progresso. E por aqui já se foi anulando uma boa parte da história de Mangualde.
Abril 2021