Ir de comboio nos dias de hoje de Lisboa a Madrid, não é só uma aventura, é uma vergonha.
Quando António Costa constituiu a “geringonça” e passou a ser Primeiro Ministro, formou Governo.
Foi escolhido para Ministro das Infraestruturas Pedro Marques. Quando este anunciou o Plano para a Ferrovia em Fevereiro de 2016, não esteve com meias medidas. Desta vez é que era a sério e o Estado ia investir 2,7 Mil Milhões de Euros na Ferrovia. Nada de modestias, agora é que se vai fazer a modernização dos Caminhos de Ferro Portugueses até 2020.
Os anos foram passando e dois anos depois abandona o Governo para ir para Bruxelas como Eurodeputado.
“Quando a esmola é grande até o povo desconfia”!
Feitas as contas chegou-se à conclusão que Pedro Marques ao sair para Bruxelas tinha somente investimentos em curso no valor de 158 milhões de euros, uma ridícula taxa de execução de 7%. Em suma, o Plano anunciado foi um desastre total.
Há até uma nota caricata. Aconteceu em Novembro de 2018. O Ministro Pedro Marques tinha anunciado a electrificação do troço Nine-Barcelos. Faz uma visita, chama a Comunicação Social e para mostrar a electrificação da linha, manda ligar a Catenária. A Catenária foi ligada expressamente para a viagem do Ministro. Feita a viagem a Catenária foi desligada. O Jornal de Barcelos escreveu na altura: - Ministro anda a brincar aos comboios”.
Foi substituído em 2019 por Pedro Nuno Santos, que anda a tentar fazer o que tinha sido prometido e não foi feito pelo seu antecessor.
Vamos porém ao tema Lisboa Madrid por Caminho de Ferro.
A falta de investimentos na Ferrovia causou grandes prejuizos ao País.
A Pandemia veio também contribuir para esta situação desastrosa.
O Comboio Hotel que durante anos ligou Lisboa a Madrid, primeiro pela Linha de Leste, ao longo do Rio Tejo, por Elvas, mais tarde pela Linha da Beira Alta ( 2012) Vilar Formoso, parou em Março de 2020. O mesmo aconteceu à ligação Lisboa Paris pelo Sud Expresso.
Mais de um ano após esta paragem não se vislumbra data para reatar as ligações. Estamos em Julho de 2021.
Os espanhóis, com um pouco de sarcasmo dizem:- Pero han sido los portugueses de la CP, apoyados por el buen Ministro de Infraestruturas que tienem, quienes han parado los pies a Renfe y le han dicho que de decisiones unilaterales, nada”.
Os atrasos na Ferrovia 2020 e a falta de aposta na alta velocidade levaram a que em 2021 Portugal esteja mais isolado, do que já esteve, pese no passado os meios não serem tão modernos e rápidos como os de hoje.
Madrid dista de Lisboa cerca de 510 Kms. Para fazer esta ligação, hoje, são precisas 10 horas e 20 minutos e apanhar 4 comboios, já que não há ligação directa.
A ligação Lisboa - Madrid iniciou-se em 23 de Julho de 1943. Era o antigo Lusitânia que ligava o Rossio em Lisboa, às Delícias em Madrid.
Nesse tempo 13 horas de percurso, mas sem sair do comboio.Havia muita qualidade e até luxo. Vagon - Restaurante , Carruagens Cama para passar a noite. Três vezes por semana.
A partir de 1995 passou a partir de Santa Apolónia. Em 1961 tornou-se diário. Em 1969 a estação terminal era Atocha ( Madrid).
É claro que Portugal é um pequeno País, uma economia débil e não tem peso para enfrentar a Espanha.
Os “nuestros amigos”, amigos, amigos, negócios à parte, olham para si e para os seus interesses. Talvez se entendam no Futebol, no Mundial, mas sempre com vantagens para a Espanha.
As ligações que estão a ser feitas utilizam velhas carruagens, automotoras, pouco confortáveis, assentos apertados, demasiado próximos, são barulhentas a sacolear-se pela linha fora. Algumas até são “pichadas”. Uma espécie de autocarro a andar sobre carris!
O problema da Ferrovia já é velho.
Todos os Governos foram prometendo coisas e nunca cumpriram.
António Guterres em 2001 e 2003 fez muitas promessas. Outros Governos fizeram o mesmo. Mas, as promessas começaram a perder velocidade.E até hoje foi de mal a pior.
O material ferroviário hoje usado pela CP, na maioria das ligações é de carruagens novas por dentro e velhas por fora. Carruagens recuperadas com mais de 50 anos.
Badajoz a cidade dos “caramelos” prepara-se para receber a alta velocidade. Em Sevilha já passa a alta velocidade.
A Extremadura Espanhola, uma das regiões de Espanha mais pobres e menos populosas (1 milhão de habitantes), também não tem força para se impôr ao Governo Central Espanhol.
Mas, se houvesse melhores ligações a Portugal, uma boa ligação a Lisboa, dava outra centralidade e mais peso à região e deixava de ser periférica em relação a Madrid.
E daqui um maior movimento turístico para as cidades do Alentejo e da Extremadura espanhola.
No mundo moderno a mobilidade é fundamental.
Quem é que não compreende isto?…
Viseu também espera pelo comboio. Mas pode esperar sentado!…
António Fortes