QUANDO O SOL CANSADO SE VAI PONDO

O POENTE
Olha a chuva a cair ! … 
Num alvoroço de ansiedades o ocaso da vida é como o sossego de uma tarde de sol poente em que a luz do sol se faz luar gerado no silencio do adormecer de uma noite feita de sonhos não cumpridos . Há mais espaço para pensar e num vago espírito envolto entre dias de sol e de brumas , em ruídos e discórdias que abafam o nosso pensamento . Como um fluxo sanguíneo invisível que nos aquece numa espécie de grito abafado no silencio do peito qua acalma a tempestade do nosso espírito , clamando serenidade e paz , numa quietude mansa e doce que sempre existe dentro de cada homem . Como um manjar divino , o tempo alimenta as nossas almas . Fazemos do olhar um enorme espanto para que o poente da nossa vida nos caiba nos olhos e nos devolva toda a beleza que outrora perdemos . E assim renascemos . Como uma névoa matinal , a nossa existência é feita de avanços e recuos . Damos um passo em frente , levamos um puchão para trás , entre as trevas e o luar se vai tecendo a nossa vida acidentada . Viajámos de um tempo estagnado , somos aprisionados num presente entre a luz e a cinza , sem forças e capacidade para enxergarmos um futuro risonho , apenas projetamos nosso sonhos numa ilusória realidade .Como fluidos mágicos deambulamos absortos e sem capacidade de pensar . Passamos ao largo daquilo e de que nos apraz . Observamos a vida que por entre os dedos nos escapa fugaz em escassos e luminosos períodos do dia , em noites escuras ou na branca solidão das madrugadas que passamos acordados . No brilho da estrela da tarde sinto uma centelha de fé e esperança , aguardo em horas de ansiedade a abertura das fronteiras que me barram das vivências que me condicionam , da liberdade que deixei de ter e em vivos cantos refolgo o ar sem mordaça , preciso respirar . Nos entremeios sinto a inocência de uma ilusão e no âmago do meu ser antevejo a terra abundante de árvores de frutos , searas ondulantes com tons doirados e que no mais vivo de uma carne dolorosa as armas sejam guardadas num museu de horrores . E num lusco-fusco anímico sejam recordados os tempos de outrora que mais ninguém almeja viver . E nesta minha saudável alienação vivo um retorno à realidade , aceito os tempos , as mudanças , deixo meus sonhos voarem com asas de esperança .