Apresentação do Livro “Mangualde-Patrimónios Municipais” na Biblioteca Municipal de Mangualde

Foi apresentado no passado dia 2 de Julho na Biblioteca Municipal de Mangualde o Livro “ Mangualde Patrimónios – Municipais”, que contou com a Presença do Dr. Elísio de Oliveira, Presidente da Câmara Municipal de Mangualde, Dr. João Lopes, Vereador da Cultura, Dr. Jorge Sobrado, Vereador da Câmara Municipal de Viseu.
O Autor, António Fortes, ao apresentar a Livro, disse:

“Mangualde, antiga Azurara da Beira, está no coração da velha Província da Beira Alta.
Aqui na Beira Alta se fez Portugal, se moldou parte da sua história, terra de heróis, de grandes figuras que engrandeceram o País e o Mundo.
Beira Alta, na nervosa expressão de Fialho de Almeida - A mais bela e portuguesa das nossas Províncias, ou na frase doutrinante de Teófilo Braga - Centro Vital da Nacionalidade.
Aqui, bem no meio desta Província, nasceu e cresceu a Velha Azurara da Beira, hoje Cidade de Mangualde.
Esta terra foi berço de grandes figuras políticas, que há mais de um século defendiam ideias revolucionárias, no alvorecer da República.
Para a sua defesa nasceram muitos jornais, talvez a terra mais pródiga em publicações de cariz político.
Vejamos, segundo o escritor e historiador, Maximiano de Aragão, grande vulto da nossa Cultura, nascido em Fagilde/Mangualde: - Surge em 1867 de A. A. Mota Feliz a “Gazeta das Beiras”; “A Gazeta de Mangualde” em 1889 de Manuel Feliz; ”O Beirão”, 1887; “O Conspirador”, em 1889; ” O Novo Tempo” em 1889 de Alberto Osório de Castro; “O Povo Beirão” em 1891; “A Reação” de José Marques (meu bisavô) em 1891; “ Voz da Beira”, 1908 de José Pessoa Ferreira (meu tio bisavô) e “Correio de Mangualde” de Virgílio Marques (meu tio avô) em 1923.
Com estes antecedentes todos, eu estava destinado a pertencer a um Jornal de Mangualde.
Segue-se o “Renascimento” em 1927 e o “Notícias da Beira” em 1931.
O Jornal “Renascimento”, com a sua provecta idade, 94 anos, quase a completar um século de vida, assistiu às mudanças e acompanhou as pessoas que ao longo de tão largo período de tempo deram o seu melhor a esta terra, Mangualde.
E não podia ficar indiferente a tantos acontecimentos. Por isso a Edição deste Livro.
Pelas páginas deste vetusto Jornal passaram escritores, historiadores, investigadores, que deixaram as suas Crónicas e que hoje são parte da História de Mangualde.
Valentim da Silva, Poeta, Escritor e Diplomata, possuidor de uma larga cultura humanista, escolhe o Renascimento para publicar os seus laboriosos e eruditos trabalhos de investigação histórica.
Na sua morte o “Renascimento”, reconhecendo a sua afeição, prestou-lhe a mais digna e sentida homenagem com um número especial.
Também Alexandre Alves, Historiador e Investigador, que deu o seu nome a esta moderna Biblioteca, utilizou o “Renascimento” para publicar estudos, ensaios e Crónicas como “Mangualde de Outros Tempos” 1961/4 e “Nossa Senhora do Castelo” em 1961.
Amândio Marques, advogado, nascido em Mangualde, meu tio avô foi um dos grandes defensores do regionalismo, fundou no Porto a Casa da Beira Alta e publicou no Jornal Renascimento os seus livros – “Onde Nasceu Pedro Àlvares Cabral” e “Gil Vicente Beirão”. Seguindo uma tese de Valentim da Silva, Pedro Àlvares Cabral, nasceu na sua Casa de São Cosmado e Gil Vicente em Guimarães de Tavares.
Mais recentemente, nos dias de hoje, outras figuras da investigação continuam a publicar os seus trabalhos como é o caso da Arqueóloga Dr.ª Clara Portas, sobre as Ruinas da Raposeira e que convidei para fazer parte do Livro “Mangualde - Patrimónios Municipais”.
Mangualde tem um vasto Património construído e disperso por todo o Concelho.
É preciso conservá-lo e torná-lo conhecido. A Cultura não é um parente pobre do desenvolvimento económico. Muito pelo contrário é o primeiro pilar, o seu principal suporte.
A Cultura e a Arte são o maior Património de um Povo.
Eça de Queiroz dizia: - a Arte é tudo, sem Arte não há nada!
E a maior obra de Arte, a mais bela de todas, que com muito amor, oferecemos aos nossos filhos e netos, é o mundo!
O Mundo mudou muito, mas não mudou nem pode mudar o nosso passado.
Assim escreveu o grande Alexandre Dumas em “As Tumbas de Saint Denis”: -”Os Homens às vezes podem mudar o futuro … mas, nunca o passado”!
E o Escritor Evelyn Wang dizia: - “As únicas certezas que possuímos são as do passado”!
Não podemos ficar no passado. Temos de ter projectos para o futuro.
Os grandes projectos nascem sempre de sonhos!
E precisamos de ser ousados. O Padre António Vieira dizia: - “A ousadia é metade da vitória”!
As nossas cidades vão sofrer grandes transformações. Vão passar a ser tecnológicas, com ferramentas inovadoras, mas sempre aproximando a Região dos Cidadãos. Para isso é necessário investir nas Plataformas Digitais, criar espaços de Cidadão nas Freguesias. Fixar quadros qualificados e criar incubadoras de base científica e tecnológica.
Mas, ter sempre a Cultura como pilar de desenvolvimento. Ter a inteligência ao serviços de um futuro mais sustentável e mais equilibrado e saber fazer a ponte entre o passado e o futuro.
Hoje o mundo é global. O Turismo, essa “Sorte Grande”, como lhe chamou o Poeta Pedro Homem de Mello, representa uma fatia considerável das nossas receitas.
E é um aliado forte do nosso Património. Cultura e Turismo andam tão interligados, que sem Cultura não havia Turismo!
Mas, há as pessoas. As suas tradições, os seus costumes.
O Escritor Almeida Garrett no livro “O Romanceiro” publicado em 1847 dizia: - “O tom e o espírito verdadeiramente português, esse é forçoso estudá-lo no grande livro nacional, que é o Povo e as suas tradições, as suas virtudes e os seus vícios, as suas crenças e os seus erros”.
Por isso ao escrever o Livro “Mangualde-Patrimónios Municipais”, dediquei algumas páginas aos usos e costumes da nossa Região. Às suas tradições.
Os Ranchos Folclóricos são o sustentáculo das tradições. Como dizia Pedro Homem de Mello, um dos maiores defensores e grande divulgador do Folclore Português: - nos Ranchos conhece-se o verdadeiro rosto da gente portuguesa!
Os Ranchos Folclóricos são o espelho do nosso Povo, a nossa ancestralidade, as nossas verdadeiras origens!
Ou como dizia Walter Scott, um dos maiores Escritores Ingleses – “As canções são como o orvalho do Céu, no meio do deserto, refrescam o caminho!”
Este Livro é uma abordagem do nosso Património. Ficará para outro um estudo mais aprofundado.
Aqui, lembro o Grande Poeta Guerra Junqueiro. Junqueiro foi Poeta porque tinha que ser Poeta; Pela mesma razão que o pinheiro dá resina, ou a pereira dá peras. E foi Grande!
E afirmava: - “Escrevo os meus livros para mim e imprimo-os para o público; Procuro esquecer-me do livro feito para me lembrar únicamente do livro a fazer; É como cortada a seara, colhido o trigo, arroteia-se o campo e semeia-se de novo; A nossa Obra é o nosso Monumento”!
Virá seguramente um novo livro!
Ao escrever este Livro segui o que o Escritor Stefan Zweig disse num prefácio duma das suas obras: - “Nós não devemos ocultar as coisas quando as vivemos, tomamos parte nelas. Devemos transmiti-las às futuras gerações para que possam continuar a aprender as lições dos seus ancestrais”!
Essa foi a minha intenção!
Vou terminar agradecendo a:
Dr. Elisio Oliveira - Ilustre Presidente da Câmara de Mangualde, um bom amigo, o seu apoio.
Ao Dr. Jorge Sobrado, um amigo que comigo apresentou na Biblioteca Municipal de Viseu, quando era Vereador da Cultura, dois livros inéditos de Maximiano de Aragão, tendo feito os respectivos Prefácios.
Ao Dr. João Lopes , Vereador da Cultura, a sua prestimosa colaboração.
E à Dr.ª Maria João Fonseca, Directora desta acolhedora Biblioteca, todas as atenções que me dispensou.
Ao Serafim Tavares, companheiro de viagem, Proprietário e Director do Jornal Renascimento, que comigo carrega a cruz de levar por diante o Jornal Renascimento, nesta sua nova jornada, agradecer a liberdade e o apoio que sempre me deu na orientação e Direcção do Jornal.
O Renascimento e todos nós estamos com os olhos no futuro. Por isso, talvez o provérbio Àrabe tenha alguma razão de ser:- “Não é prudente olhar para trás, quando o caminho é para a frente”!
E deixar, numa frase que brota com toda a sinceridade do coração dos Beirões – o meu imenso BEM HAJA a todos que se dignaram assistir a este acto”.