REFLEXÕES

Patrimonio cultural (26)
Área romanizada no sopé do Monte Sra do Castelo
Na última reflexão, afastei-me um pouco do sopé do Monte recordando alguns achados romanos nos arredores da cidade de Mangualde, mercê de várias incursões em alguns terrenos, com a devida autorização. Não sendo estes meus escritos assentes em trabalhos de investigação sistemática, servem-me para de forma aligeirada focar o que poderiam ser largos espaços de estudos arqueológicos aprofundados no nosso concelho. Sabemos que ao longo da história do povo romano houve inevitavelmente a movimentação de Legiões a partir de Roma, para o Médio Oriente, Europa e Norte de África. Para garantir o seu poder nos territórios conquistados elementos dessas legiões fixavam-se em locais como força militar, a fim de dominar rebeliões por parte dos submetidos ao seu domínio. Assim iam erguendo inúmeros povoados de maior ou menor dimensão. Criaram “civitas” villae” “vicus” escolhendo as melhores zonas agrícolas assegurando os meios de sobrevivência e enriquecimento a partir da terra. O trabalho nestas quintas era executado pelo povo escravizado, que além do sustento dos novos senhores tinham de providenciar em todas as áreas da construção civil, religiosa e militar, bem como a produção de tudo o que era necessário ao dia a dia – desde roupas às alfaias agrícolas, objectos variados do cotidiano em metais, cerâmicas, vidros, tudo para assegurar as vivências domésticas, sociais e militares. Ao dominarem o povo da citânia do Monte da Sra do Castelo apoderaram-se de todo o território circundante. Aquele que hoje não passa de pequenas propriedades dos cidadãos actuais, mas também largas áreas, quintas nos arredores da cidade as quais teriam sido delimitadas por estes e depois outros povos invasores a partir da Era Cristã. Muitas aldeias de hoje terão tido a sua origem em “vicus”ou “villae”. Além dos sítios que já referi no anterior artigo, encontraram-se também testemunhos na quinta da Calçada, nas localidades de S. João da Fresta, Santa Luzia e Santo Amaro. Nesta última uma base de coluna romana figurava num jardim além de vestígios de construções. Do quintal alguém recolheu por processos desastrosos uma certa quantidade de moedas, que foram limpas por métodos inadequados e por via disso ficaram praticamente inutilizadas e sem valor histórico. Assim se foi e vai perdendo o espólio e a história deste concelho. Na década de 80 criou-se no Ministério da Cultura uma estrutura moderna olhando-se para a vasta área da Arqueologia como uma Ciência que teria por base a investigação académica e no terreno através de escavações arqueológicas em locais específicos. Criou-se o Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR) com acções muito eficientes através dos Serviços Regionais de Arqueologia (SRA) que superintendiam em todos os trabalhos de escavação em todo o País. A esses tempos se deve muito do que hoje existe musealizado ou a céu aberto. Mas com novas reestruturações do MC desapareceram os SRA. É pena, quando se criam estruturas profundamente válidas em determinado campo, logo aparecem umas cabeças iluminadas que arrasam tudo para começar de novo… com pernas tortas. Temos este destino…
Julho 2021