PLANO INCLINADO

Censo 2021
O Censo realizado em Maio de 2021, cujos resultados foram conhecidos no final do mês de Julho, são preocupantes.
É o retrato da decadência de um país. O Interior é preocupante. Está numa situação de “não retorno” no despovoamento.
Portugal nos últimos anos perdeu 220.000 pessoas, 2% em relação a 2011. E o resto do País também seguiu o mesmo trajecto, com raríssimas excepções, que não compensam a perda de população.
Debrucemo-nos sobre o nosso Concelho, Mangualde, no interior de Portugal, que pertence ao Distrito de Viseu.
Concelho de Mangualde
Para o estudo deste Concelho socorremo-nos dos dados oficiais, já publicados pelo Instituto Nacional de Estatística e pela Pordata (projecto da FFMS, base de estatísticas), que são os verdadeiros e não podem ser de forma alguma desvirtuados, porque são estes e não outros.
Consultamos também um estudo feito por Organismos Oficiais de Mangualde, em 2020, em que está incluída a Câmara Municipal e que também não deixam dúvidas sobre o estado actual do Concelho .
Diagnóstico Social do Concelho de Mangualde em 2020
A dinâmica demográfica do Concelho de Mangualde é sobretudo marcada pelo declínio populacional, pelo acentuado envelhecimento populacional, por mudanças ocorridas ao nível das estruturas familiares que sinalizam novas formas de vida em família e por um saldo migratório negativo, já que os residentes estrangeiros estão a abandonar o Concelho.
A população estrangeira com residência legal era em 2011 de 447 pessoas e em 2018 de 301, isto é, menos 46. Não encontramos dados actuais.
A sua proveniência era sobretudo de países europeus, por exemplo Ucrânia e do Brasil.
O decréscimo foi de -32,7%, muito superior ao verificado no Distrito de Viseu.
É esta a conclusão a que chega o supracitado estudo que referimos.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística e do Pordata a população do Concelho de mangualde era em 2019 de 18.564 indivíduos, sendo 9.615 (51%) do sexo feminino e 8.949 indivíduos do sexo masculino.
A População do Concelho de Mangualde decresceu desde 2011 ( Censo 2011), até 2019, oito anos, 1.372 habitantes. E neste último Censo em 2021, continuou a sua tendência decrescente, já que o Censo de 2021, deu 18.294 habitantes, menos 270 habitantes em cerca de dois anos.
O Emprego no Concelho de Mangualde
O emprego é uma vertente importante para a análise das condições económicas de uma Região.
É um meio privilegiado para a inclusão social pois constitui a principal fonte de rendimento das pessoas que trabalham e garante os meios essenciais para se possuir o mínimo de condições de vida.
A população empregada no Concelho de Mangualde é de 4.191 Homens e 3.169 Mulheres.
As Mulheres ainda continuam a ter mais dificuldades no acesso ao trabalho.
A evolução do emprego no Concelho de Mangualde deu-se para o Sector Terciário (Serviços), pois o Sector Primário (Agricultura) diminuiu.
Em 2001 a população empregada era de 8.656 pessoas. Em 2011 passou para 7.360.
O Concelho de Mangualde em 2017 tinha 1.939 empresas com Sede no Concelho.
As suas exportações eram de 396.885€ e as importações de 549.250€, isto é, um saldo negativo de -152.364€.
Os reformados são cerca de 5.189. Em 2011 existiam 1.189 pessoas desempregadas. Não encontramos números para 2021.
Entre os Organismos Oficias, a Câmara Municipal tem 256 funcionários, 149 Homens e 107 Mulheres.
Em 2018 Mangualde tinha 9 Instituições Bancárias e empregava 44 pessoas.
E havia 21 terminais Multibanco.
No Sector da Saúde Mangualde é o Concelho do Distrito que tem menos médicos por mil habitantes (1,9 / 2018).

O Plano Inclinado
A Região da Beira Alta, montanhosa, tem o seu ponto mais alto na Serra da Estrela, que atinge os 2.000 metros de altitude.
Daqui escorrem os rios para o mar dada a inclinação natural do terreno.
E atrás dos rios vão as pessoas, abandonando as suas terras, quase por tropismo, à procura das condições de vida que lhe não são dadas nas suas terras de origem.
Este fenómeno, esta atracção é quase natural e não havendo políticas nacionais, nem locais a sua tendência é para aumentar.
Estes movimentos populacionais, está estudado, são tão prejudiciais para as terras de onde partiram, como para as que os acolhem, pois estas não estão preparadas, não têm estruturas para os acolher condignamente.
Por isso Portugal, por falta de políticas apropriadas vai esvaziando o seu interior, que se despovoa e se desertifica.
No caso concreto do Concelho de Mangualde, que fica no sopé da Serra da Estrela, a tendência para a desertificação tem-se vindo a acentuar.
No ano de 1950 atingiu o seu máximo populacional, 25.340 habitantes.
Desde esse ano tem vindo constantemente a perder habitantes. O Censo elaborado em Maio deste ano de 2021 deu para Mangualde uma população de 18.294 habitantes.
Feitas as contas nestes últimos 71 anos o Concelho de Mangualde perdeu 7.046 habitantes o que equivale, mais ou menos, à população que vive na Cidade de Mangualde. É como se a Cidade se despovoasse. Ora isto, esta saída de habitantes, não é grave é gravíssima. E tem tendência a continuar, como se verifica entre o ano de 2011 e 2019 o abandono foi de 1.316 habitantes e entre 2019 e 2021 de 270. Tudo somado o Concelho perdeu em 10 anos 1.586 habitantes.
Património Histórico do Concelho
A história de Mangualde remonta às comunidades agro-pastoris do Neolítico, cujos testemunhos nos chegaram através dos monumentos funerários, monumentos megalíticos e nos achados de pedra polida ou trabalhada.
A pegada humana fez-se sentir e deixou as suas marcas, nos Dólmens, nos Castros, nas “Villas” romanas, Castelos e Torres medievais, Igrejas e Capelas, Solares, Alminhas, Cruzeiros e Edifícios rurais.
Este Património Cultural que liga o passado ao presente é muito abundante e importante para o Concelho de Mangualde.
Junta-se a este Património um outro não menos importante, o Artesanato, a Gastronomia, os Vinhos, os Queijos, os Doces conventuais e as Frutas.
O importantíssimo Sector dos Vinhos, a Marca Dão, com as suas castas tintas,Touriga Nacional, Jaen, Alfrocheiro, Tinta Roriz e as brancas Encruzado, Bical, Cerceal e Malvazia Fina, são fundamentais para o futuro deste Sector tão promissor.
Medidas para contrariar este Plano Inclinado
As cidades da Beira interior estão a procurar inverter a desertificação.
Na cidade da Guarda vai nascer o primeiro “Porto Seco” do País. Aproveitando a sua proximidade a Espanha e à maior Fronteira nacional, Vilar Formoso, o cruzamento de duas auto estradas, A25 e A23 e duas Linhas de Caminho de Ferro, Linha internacional da Beira Alta e Linha da Beira Baixa, é de facto um local privilegiado para construir este “ Porto Seco”.
Beneficia do apoio do Porto de Leixões/Viana que pretende alargar a sua área de influência e de um investimento de 2 milhões de euros.
Este grande empreendimento no interior pretende criar vantagens a nível social e económico, aumentar a competividade das empresas da Região, criar emprego no interior, alargar o acesso à intermodalidade com poupanças significativas, reduzir os custos de armazenagem e paralização, reduzir os tempos de transporte, agilidade aduaneira, e muitas outras valências.
Por seu turno, Viseu está a lançar o “sonho” de Almeida Henriques com a criação da Zona Empresarial de Lordosa.
Nelas, ao lado de Mangualde investe na sua Zona industrial comprando em 2021, uma área de 26.000 m2 para ampliação da sua Zona Industria. A Zona Industrial de Nelas tem agora 65 hectares, comprados nos últimos 5 anos.
Tondela ampliou a sua Zona Industrial em 2020 com um investimento de 3 milhões de euros.
Mangualde parou no tempo. Anuncia em 2019 um grande projecto para a Criação da Zona industrial de Fagilde, aprovada pela CCR do Centro, uma investimento de 4,5 milhões de euros e que não passou de uma promessa eleitoral feita no último dia das eleições Autárquicas de 2019. Uma grande Mentira … Passaram 4 anos e nem um pinheiro foi cortado na anunciada Grande Zona Industrial, anunciada com pompa e circunstância, para muito breve, porque havia imensos investidores interessados.
Para onde foram esses investidores?
O Sector Turístico em Mangualde
O Concelho de Mangualde dispõe de uma capacidade hoteleira, 1 Hotel, 1 Estalagem, 4 Alojamentos Locais e 4 em Turismo em Espaço Rural.
Tudo isto dá 461 camas de alojamento.
Uma análise mais pormenorizada dá como principais clientes os turistas portugueses em larga maioria, os franceses, alemães e espanhóis.
O Concelho de Mangualde nunca aproveitou ter a principal Auto-Estrada internacional a passar junto da cidade. Mesmo à Porta…
Em cerca de 20 Kms que a Auto Estrada toca no Concelho, não há um único painel a chamar a atenção para a sua oferta turística. Tem fundamento ter um Painel na Ponte de Fagilde a indicar que começou o Concelho de Mangualde, e outro nas Chãs de Tavares a indicar o mesmo. E no Nó de Mangualde é indispensável. Desta forma os turistas passam a 120 Kms e vão para outros lugares.
Mangualde, através da A25 é o local mais próximo da Serra da Estrela. A Serra da Estrela é dos poucos Destinos Turísticos do Centro do País. Não há uma indicação…
Um Destino Turístico, para quem não sabe o que é, é um local onde existe uma coisa que para se ver tem de se ir lá. É o que acontece com a Serra da Estrela, o único local em Portugal onde há neve e estruturas preparadas para a sua usufruição.
Portanto justificava, na Auto Estrada A25, uma placa indicativa da Serra da Estrela.
Acresce ainda que este Destino Turístico é de Inverno, altura da baixa do turismo de Sol e Praia.
Uma distração completa!
A Industrialização como motor de arranque da Economia
Só a industrialização pode tirar Portugal da crise económica em que vive.
O Sector do Turismo tem sido a alavanca nos últimos tempos para o nosso desenvolvimento e para o PIB.
Mas, o turismo é uma indústria sazonal, dependendo de muitos factores, imprevisíveis e por isso corre mais riscos do que o Sector Industrial.
Mangualde tem de apostar forte no seu Parque Industrial. Mangualde não tem propriamente uma Zona Industrial.
Tem indústrias que se localizam no Concelho. Uma Parque Industrial é outra coisa bem diferente.
É uma plataforma de Serviços, onde os terrenos são Camarários, para poder fazer uma política de preços, escolha de empresas. Tal como no Turismo, onde é menos importante a quantidade, mas sim a qualidade dos turistas, nas empresas também tem de haver a escolha, as melhores, as que incorporam maior valor acrescentado, mais tecnológicas e que não venham pagar ordenados mínimos.