Rejuvenescer a agricultura e os agricultores (e contrariar a atração da cidade)


Dentro de um país pequeno como Portugal há uma grande assimetria, tanto na distribuição populacional como na distribuição de riqueza. E é um fenómeno que se tem vindo a agravar com a corrida às cidades e para o litoral, tal como os resultados provisórios dos Censos 2021 vieram comprovar.
Em apenas 20 anos, o mundo evoluiu: a tecnologia desenvolveu-se, a rede de estradas cresceu, a conectividade aumentou… mas é curioso ver que tudo isto incentivou o movimento para as zonas urbanas e para o litoral em vez de o equilibrar.
Quem já percorreu os circuitos pedestres ou a ciclovia em Viseu facilmente se apercebe das centenas de campos agrícolas e /ou matas abandonados. Esta realidade advêm da desertificação e da baixa rentabilidade de pequenas e médias explorações do sector primário o que conduz ao desinteresse e abandono das explorações. Mas a crescente empresarialização e profissionalização deste sector, no entanto, pode trazer alento a este cenário, sobretudo no setor vitivinícola.
O potencial agrícola de Portugal e a sua importância ficaram bem marcados neste dois últimos anos de pandemia. Valores de empreendedorismo e sustentabilidade são essenciais a uma sociedade inclusiva e próspera e devem ser incutidos nos sistemas de educação para mostrar aos mais adolescentes que a agricultura e a exploração florestal são demasiado importantes para serem abandonados.
Governo e autarquias podem e devem criar incentivos à população jovem, não apenas económicos, mas de envolvimento – deixando claros, desde cedo, os propósitos e os impactos que a sua intervenção pode ter. Mas mais ainda, devem oferecer benefícios fiscais atrativos a empresas e aos jovens para que se fixem no interior. Há também um potencial muito interessante por explorar que assenta em comunidades estrangeiras que procuram a nossa cidade, nomeadamente a comunidade brasileira, que tem um grande tradição agrícola e podia ser mais um fator de atratividade.
Por último, mas não menos importante, é a transformação do mercado de trabalho. Desta pandemia há várias lições a tirar e uma delas é não subestimar as infinitas possibilidades do digital. Tanto autarquias como privados devem aproveitar este momento e incluir este modelo de trabalho nas suas estratégias. Desde estruturas para albergar comunidades de trabalhadores remotos à recuperação de espaços para cowork, são muitas as ideias para revitalizar as zonas menos povoadas.
O desenvolvimento do Portugal rural é uma necessidade fundamental ao crescimento económico do país e à sua coesão territorial. Reduzir as assimetrias é um desafio que nos pode trazer grandes riquezas e que devemos abraçar com entusiasmo. Mas não pode partir apenas de nós, é necessária uma decisão governativa neste sentido. 
Largar o vício da cidade não é fácil, mas é fundamental para caminharmos a passos largos para um país mais equilibrado, mais justo e aproveitado em pleno.