VIDA E SENTIMENTO

 

VELHAS LEMBRANÇAS DOS TEMPOS DOS NOSSOS AVÓS  
Vejo-me infinito e sem idade nos tempos de outrora em que ir á escola não era obrigatório . O ensino era privilégio apenas de muito poucas pessoas . Nossos avós tiveram de lutar muito para ter acesso a um ensino limitado , sendo muitos deles quase forçados a desistir a meio do percurso como um sonho inocente iluminado pelas mágoas encantadoras dos seus rostos . Hoje ir à escola é um forte motivo para resistir às desigualdades ocasionais impostas pelos tempos . Diziam-nos os nossos avós : - “ na minha época era diferente “ .. Leva-nos a pensar que se trata apenas de coisas relacionadas com a tecnologia . Indubitávelmente os seus costumes e estilo de vida mudaram nos seus mais variados aspectos . Os seus pais não os iam levar nem buscar à escola . Iam a pé pelas névoas da manhã , por entre dias de sol e de brumas , fosse longe ou perto , chovesse ou fizesse sol . A maioria dos meninos andavam descalços enquanto o vento passava declamando dias de tragédia . Quando chovia chegavam molhados e assim permaneciam várias horas . A “ braseira “ ou “ escalfeta “ com as brasas tremeluzentes de uma lareira temporã acesa de manhãzinha para fazer o cafézito na púcara de barro e que alguns transportavam , já despidos da pouca alegria .Não aquecia e as mãos e os pés enregelavam , e já tristemente da garganta lhes saía um murmúrio de prece num suspiro rumoroso . Poucos e austeros eram os móveis que compunham a sala . As carteiras com macerações de luz e vagos tons de cinza como fantasmas errantes vencidos eram o assento de dois ou três alunos , tinham um tampo inclinado com uma ranhura para o lápis e um buraco para meter o tinteiro das canetas de aparo , uma mesa a cadeira do professor e um armário rústico . Numa parede lateral branca, caliçada , pendia um mapa de Portugal e na parede central o quadro negro de ardósia encimado centralmente por um crucifixo , ladeado pelas sismáticas fotografias do Presidenta da República e do Primeiro Ministro . Diáriamente e logo pela manhã era obrigatório rezar e cantar o Hino Nacional . A tabuada , os rios , as vias férreas , as montanhas, a história de Portugal ( dinastias e reis ), tudo tinha que ser sabido e recitado na pontinha da língua . Ditados e contas que o professor corrigia no intervalo ( aproveitavam-no os alunos para comer o pedacito da broa com a sardinha ) . O número de erros e as contas erradas eram equivalentes ás reguadas . O professor era severo mas respeitado e os castigos pesados . Não fazer os trabalhos de casa “ eram premiados “ com umas reguadas , uns puxões de orelhas ou uma canadas na cabeça . Não eram tidos como agressões físicas apenas “ correctores disciplinares “ . Os livros e o lápis de carvão , a “ ardósia ou “ lousa “ um caderno de contas e um de linhas eram levados nas sacolas feitas de pano cru ou de serapilheira , e só os filhos de famílias mais abastadas usavam malas de cabedal. Os trabalhos eram inicialmente feitos na “ ardósia “, e só quando os alunos sabiam escrever bem lhes era permitido escrever nos cadernos com a tinta do tinteiro e a caneta de aparo . Não havia luz electrica , nem televisão . E já um luar romântico os apertava nos braços quando o dia findava dos seus trabalhos agrícolas ,ou brincadeiras na rua . Jogos desportivos só acompanhados presencialmente onde eles aconteciam , ou no máximo ouvir informações pela rádio .  
Foi apenas na década de sessenta que surgiu o primeiro satélite meteorológico , o primeiro computador e o homem foi ao espaço e caminhou na lua .