A (in)justiça e a confiança


A Justiça é a instituição em que os portugueses menos confiam e os governantes nada fazem para a credibilizar, bem pelo contrário, parece que se satisfazem com o lodaçal em que está mergulhada.
Segundo um inquérito realizado pela Deco Proteste, o sistema judiciário é a instituição em que os portugueses depositam menos confiança e em que surgem também a Autoridade da Concorrência e o Banco de Portugal no grupo das avaliações mais baixas.
No extremo oposto desta tabela, divulgada poucos dias depois de um novo abalo na Justiça portuguesa com a fuga de João Rendeiro para o estrangeiro, surge o ensino público (6,9). Para medir os níveis de confiança, os 1.516 inquiridos em Portugal atribuíram uma classificação de 1 a 10.
Num comentário global aos resultados, Rita Rodrigues, responsável de relações públicas da Deco Proteste, sublinha que “uma das razões para a desconfiança parece estar relacionada com a convicção de um elevado número de inquiridos de que estas organizações não são independentes e são permeáveis a interesses de governos ou de grupos económicos, por isso, melhorar o acesso dos cidadãos à informação pode ajudar a mitigar essa desconfiança”.
Tenho para mim que o problema não está no acesso dos cidadãos à informação mas em aplicar as leis independentemente do status quo do arguido. É que em Portugal, a cada dia que passa, parece haver leis para uns e outras leis para outros mais poderosos.
Este governo podia ter aproveitado a bazuca para dar mais condições aos agentes judiciários, no entanto, o PRR para a Justiça tem um orçamento de 267 M€. No projeto de execução deteta-se logo duas omissões: os recursos humanos e o edificado.
O PRR tem um parágrafozinho sobre controlo, e nada mais. Em contraste, os portugueses desconfiam de políticos, empresários e até dos seus concidadãos. E a resposta não pode ser dizer que as pessoas é que estão enganadas. Já sobre o OE 2021 o que o histórico deste governo nos diz é que “de boas intenções está o inferno cheio” pois pouco se executa e fica quase tudo cativado na gaveta do Sr. Ministro das Finanças.
Os portugueses desconfiam do poder, de políticos e empresários, e se tropeçarem em corrupção admitem não o reportar, por medo ou descrença, conclui o estudo O que Pensam os Portugueses sobre Corrupção: Perceções, Atitudes, Práticas, dos investigadores do ICS (Instituto de Ciências Sociais) Luís de Sousa e Pedro Magalhães. Mas quem devia e, em alguns casos, poderia atuar, não parece interessado: afinal, para já nenhum partido ou instituição anticorrupção quis saber do estudo.