O ÚLTIMO FUZILADO

Eram 7horas e 45 minutos do dia 16 de Setembro de 1917 quando João Augusto Ferreira de Almeida foi fuzilado. O soldado motorista, de 23 anos, estava acusado de traição, porque, durante a I Grande Guerra Mundial, tudo havia feito para se entregar ao exército alemão, procurando conhecer o caminho que o conduziria às linhas inimigas onde pretendia revelar a localização das tropas portuguesas que combatiam na Flandres
Antes de ir para a tropa, João de Almeida havia sido empregado de Adolfo Hofle, alemão radicado na cidade do Porto, bisavô do atual Presidente da Câmara, Rui Moreira. Talvez a sua ligação a um patrão alemão tenha tido alguma influência neste seu ato tresloucado.
A pena de morte havia sido abolida em Portugal em 1 de Julho de 1867 para os cidadãos civis, mas manteve-se em vigor até 1911 para os militares. Foi, porém, recuperada a meio da Grande Guerra, sendo apenas aplicável “no caso de guerra com país estrangeiro e apenas no teatro da guerra”
O pelotão de fuzilamento era composto por 4 soldados, 4 cabos e 4 sargentos. Eram todos do Batalhão de Infantaria nº 14, ao qual pertencera João de Almeida antes de ir para a unidade de automóveis. Convocados na véspera, tinham sido escolhidos entre “os menos impressionáveis”. Foi instalado um batalhão de prevenção numa localidade próxima do local de execução para a eventualidade de reações adversas. O condenado suplicou que lhe poupassem a face, que o não desfigurassem.
Foi lida a sentença e colocada a venda nos olhos do condenado. Soaram 11 tiros e o corpo caiu. Quando foram verificar, como era usual, se todas as espingardas tinham disparado, constatou-se que a de um dos sargentos não fizera fogo. O sargento tremeu, pois poderia ser levado a conselho de guerra, mas logo se sentiu aliviado, pois o investigador concluiu que a falta de disparo se ficara a dever “à deficiente colocação do fecho de segurança da espingarda”.
No lançamento do livro intitulado “João Almeida, o último fuzilado”, da autoria de Albérico Afonso Costa e de João Ribeiro, afirmou Viriato Soromenho Marques que “foi um crime do Estado Português contra o cidadão enfermo, com problemas psicológicos, que deveria ter sido tratado e apoiado, porque estava nitidamente perturbado e, em vez disso, foi fuzilado”.
Como alguém também disse, “o soldado foi o bode expiatório para prevenir uma rebelião, já que os militares estavam cansados de uma tão prolongada guerra (1914-1918), com milhares de mortos.
Passados 100 anos, em 15 de Setembro de 2017, por proposta do Governo, o Conselho de Ministros aprovou uma deliberação que propôs ao Presidente da República a “reabilitação moral” do soldado, cujos restos mortais se encontram em França. Nessa mesma data celebraram-se os 150 anos da abolição da pena de morte em Portugal.