Falta de mãos ou falta de incentivos?


A falta de mão de obra agrava-se a cada ano que passa na apanha da fruta. É um problema nacional. A castanha, a azeitona, a maçã, são exemplos de produções com enorme impacto económico, ambiental e social em algumas regiões, mas que sem mão de obra disponível, encontram a solução no recurso a máquinas agricolas.
Existe a tentação de contratar mão de obra estrangeira mesmo sem proporcionar condições. No entanto, a pandemia durante 2020 condicionou a mobilidade deste tipo de imigrantes. Quem recebe subsidio de desemprego não está interessado em trabalhar e os trabalhadores da zona que aparecem no intervalo dos seus empregos, não têm a assiduidade pretendida. Os poucos trabalhadores locais que se dispõem a prestar este tipo de serviços, já de idade avançada, retraíram-se com as medidas de confinamento, levando a uma redução na produção em 2020, em alguns casos, para um quinto do volume normal. O encerramento dos restaurantes e hotéis também contribuiu para a redução da procura e do negócio. A fruta apodreceu nas árvores, apanhou-se apenas a melhor.
A situação vai normalizando, mas a falta de mão de obra mantém-se. O investimento em maquinaria torna-se assim economicamente mais viável.
Dados recentes (IEFP) comprovam que há falta de mão de obra em Portugal, especialmente com qualificação elevada. Os setores mais atingidos são a hotelaria e restauração, construção civil e tecnologia de informação. Em junho de 2021 havia 12.147 ofertas de emprego abertas e sem resposta dos candidatos
A falta de mão de obra tem várias explicações. De acordo com os Censos 2021, Portugal perdeu nos últimos 10 anos 214.286 residentes. Esta redução da população justifica-se essencialmente pelo envelhecimento da população e baixa natalidade. Muitos trabalhadores optaram por colocações em áreas que sofreram menos impacto com a pandemia. Os salários baixos incentivam a emigração para países como Alemanha, Espanha, França, Holanda e Irlanda. Dados publicados em 2019 pelo Observatório da Emigração indicavam que cerca de 2,6 milhões de portugueses moravam fora do país, o que equivale a cerca de 20% da população portuguesa. A falta de trabalhadores sazonais afeta essencialmente o setor da agricultura. Os jovens não sentem interesse pela atividade e a redução drástica dos imigrantes provocada pela pandemia, afetou o preenchimento das vagas nas colheitas sazonais, turismo e serviços.
Mas na verdade, mão de obra disponível não falta. É preciso criar estímulos para os desempregados e estudantes desempenharem tarefas na agricultura. Criar programas de incentivos que acompanhem socialmente a integração dos imigrantes. Utilizar verbas do PPR para dar condições dignas e com qualidade, criar estruturas de alojamento, transporte e alimentação para imigrantes, respeitando a lei de segurança e higiene no trabalho em vigor, melhorar as condições remuneratórias aos trabalhadores, com contratos de trabalho e descontos para a segurança social, seguro e respeitando a lei em vigor.