
Nada será com dantes. Habituamo-nos a ouvir “o novo normal”, e pensamos isto vai passar e vamos voltar a ter a nossa vidinha de volta, mas não. Nada voltará a ser como antigamente. Com mais ou menos medidas, a pandemia não se podia evitar, resta agora aproveitar os pontos positivos da mudança.
Se por um lado a pandemia teve muitos impactos negativos, trouxe uma nova oportunidade para o interior do país. O teletrabalho, na grande maioria das situações, provou que a nossa casa é o nosso mundo. Os pais a trabalharem em simultâneo na sala, as crianças a estudarem juntas no quarto e a cozinha a servir de zona comum, mostrou que não é facil adaptarmo-nos a esta nova realidade, este novo estilo de vida, que parece ter vindo para ficar.
Trabalhar a partir de qualquer lado associado à rápida evolução da era digital, abre a possibilidade dos trabalhadores poderem viver onde quiserem, assim como as empresas deixarem de se centralizar nas grandes cidades. A procura de um local com mais qualidade de vida traz mais recursos às regiões, como hospitais, escolas, cultura e serviços, até agora esquecidas pelos centros de decisão.
O aumento da produtividade, a redução muito significativa de tempo em deslocações e um melhor equilibrio entre a vida profissional e pessoal, levará muitas empresas e profissionais a repensar as metodologias de trabalho e a adaptarem o teletrabalho como uma medida futura. O ambiente agradece, com menos deslocações, redução da concentração nas cidades, transportes menos saturados, menos filas nos locais de lazer e menos poluição de forma geral.
Para o teletrabalho ter sucesso, será necessário adaptarnos as nossas casas, para habitações mais amplas, com melhores condições e que repondam às necessidades de todos os elementos do agregado familiar, com especial atenção aos mais pequenos. A solução não está nos grandes centros urbanos, que são caros e inacessiveis para a maior parte das familias, mas sim no interior do país.
Neste momento, os grandes prejudicados com o pos-pandemia são as crianças. Privadas de forma massiva do ensino presencial no passado, agora vão estando em isolamento à vez. Deixadas à sua sorte, apenas com o apoio dos pais e da boa vontade dos professores, com os testes à porta e sem qualquer mecanismo de retaguarda para garantir o aproveitamento escolar nestes periodos, o futuro está certamente comprometido. Chamados de “nativos digitais”, com acesso aos tablets e aos smartphones, passam grande parte do dia a ver conteúdos, por vezes impróprios, a jogar jogos, por vezes de extrema violência e a comunicar nas redes sociais, sujeitos os mais variados riscos, quando ainda estão a desenvolver a capacidade de discernir o que é verdadeiro ou falso e o bom ou mau. É urgente alterar esta tendência e mais uma vez o interior pode contribuir, com espaços ao ar live, que contribuam para aumentar a criatividade e o desporto nas crianças, cada vez mais sedentárias e dependentes das tecnologias.
A pandemia poderá assim ter contribuido para um equilibrio do território e uma melhoria na qualidade de vida dos cidadãos. É uma oportunidade para o interior do pais se afirmar e reforçar a sua oferta como um local ideal para viver e combater a desertificação. Reforçar a identidade rural aliada à inovação e à modernidade.