Procuram-se professores (com resiliência!)

Há uns 5/6 anos a esta parte que grande parte das salas dos professores do norte e centro do país parecem asilos. “Esta sala de professores mais parece o Vale dos Caídos”, brincava a sério uma colega há dias! Só se vê colegas com mais de 50 anos. Esta é a realidade crua e dura das escolas do nosso país. A situação não era tão preocupante na zona de lisboa e sul do país pois sempre ia entrando “carne nova”.
Os vários estudos que vinham a ser apresentados pelas várias instituições previam que se nada fosse feito, várias dezenas de turmas iam ficar sem docentes em várias disciplinas.
Ora bem, o Ministério da Educação nada fez e andou sempre a assobiar para o lado como se nada se passasse. Preocupou-se com Ubuntus, DAC e DUA’s para sobrecarregar ainda mais aqueles que ainda vão tendo paciência para ser professores.
Pior, ainda contratou uns pareceres e uns estudos de uns doutores que nunca meteram os pés numa sala de aula pública para nos “enfeitiçar” com as maravilhas destas novas filosofias.
Ora bem, o abandono escolar não se faz só de alunos. Faz-se também de professores. São aos milhares os que se afastam daquela que dizem ser uma das mais nobres profissões do mundo: transformar quem não sabe em alguém que sabe.
Não me refiro apenas à quantidade de docentes que abandona a profissão por via das aposentações mas sim ao maior receio de qualquer profissional: a abdicação e a renúncia. Professores que, permanecendo no “quadro” ou não, já há muito deixaram de acreditar, perderam o amor à escola.
Uns dizem que os miúdos estão insuportáveis, outros dizem que é só por causa deles que ainda não se foram embora. Uns dizem que estão indiferentes e apáticos, outros que são irrequietos e insolentes. Mas estão de acordo com algumas coisas. Que não foi para isto que estudaram. Que não é nada disto que queriam. Que antes, ao menos, respeitava-se a “figura do professor” e que hoje nem se sabe bem o que isso é. Que há uma degradação contínua do sistema educativo. Que estão velhos.
Existem milhares de portugueses licenciados e profissionalizados para lecionar mas que jamais o farão com as condições infernais que o Ministério da Educação criou nas escolas portuguesas e nem me refiro apenas à questão salarial ou à (inexistente progressão nas carreiras para os contratados) mas sim ao absurdo da rotina profissional (turmas e horários sobrecarregados, testes, planos de aulas, planos de recuperação, aulas de apoio, reuniões sobre reuniões, resmas de atas, grelhas, relatórios, plataformas disto e daquilo) que os obrigam a trabalhar de dia e de noite, madrugada fora, relegando a família para segundo plano.
Um trabalho que está a ser cada vez mais trabalho inútil de papelada, muitas vezes sem qualquer consequência na aprendizagem dos alunos. Se pagar para trabalhar, só para não descer nas listas dos concursos, já é ridículo e absurdo, juntar-lhe o desgaste de trabalho inútil, é o toque final para o desastre total!