TEMPO SECO

País velho hábitos novos
Correndo, até, o risco de ser apelidado de fascista, quiçá por quem o é, e desconhece o que foi o fascismo em Portugal. Trago à reflexão dos leitores, um pensamento de Marcelo Caetano, último representante do Estado Novo, derrubado pelo 25 de Abril e que no exílio escreveu:
“Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suíça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa.” “Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”
Este pensamento, do último ditador, conhecido, de Portugal, que alguns abominam, mas que muitos dos que, ainda, viveram naquele tempo respeitam, transformou-se numa realidadede tão concreta, nos dias de hoje, para que passe despercebida, uma vez que condiciona as nossas vidas, e que deveria envergonhar aqueles que pensam que em política vale tudo, para alcançar os fins a que se propõem, em proveito pessoal.
Não precisamos de ir mais longe. Basta enchegar ao nosso redor: o nosso município e o nosso distrito, para outorgarmos a realidade do presságio do já ausente, mas sabio, ditador. Aqui mesmo, podemos observar verdadeiros inteletuais de expediente adulterado, que se batem com voracidade titânica para serem guindados ao poder. Todas as estratégias, incluindo as mais insólitas e abjetas, são válidas: adotam títulos de saberes desconhecidos, para burlar incautos e ocultar a sua própria mediocridade. Nada têm para dar, além da sua imensurável vontade de trepar até ao topo da hierarquia dos inaptos, onde se agarram ao poder numa estranha e louca ambição. A ambição, por sí própria não é nefasta, mas já o é os fins que advêm da ascenção desta política demagógica e pirata.
Também eles, são potenciais ditadores. Não consentem, que lhes apontem as verdades. Irradicam das redes sociais, os comentários que não condizem com seus desejos e a suas ambições. Bloqueiam quem os contrarie, esquecendo que no cenário público existe sempre o contraditório. Eu sou uma vítima do processo da sua novel e privada democracia. Uma democracia seletiva, que só admite a bajulação barata e sem contéudo, de alguém que espera qualquer benefício, pelo seu deprimente vexame de subordinação ao seu amo e senhor. É vergonhoso!.. Mas é verdade.
Estes novos hábitos democráticos, de um país velho e pobre, que vai deixando a incompetência e a voracidade desmedida, tomar conta dos seus destinos, é no mínimo catastrófica. Já ninguém é responsável por nada, e o pior é que tão pouco a maioria dos cidadãos deixou de se interesssar no futuro, para apanhar do chão as migalhas do presente.
Portugal é um país em decadência, em grau mais elevado do que era em 1974. Mas, agora simulamos que tudo vai bem, porque ninguém quer ser inconveniente, ou contrariar os ditadores da nova geração. E o trajeto está traçado: ou despertamos da nossa confortável apatia, em que nos acomodamos, ou os nossos descendentes não terão futuro algum.