O VALOR DE UMA ASSINATURA


Li há dias um artigo de Luís Valente Rosa, publicado na Visão em que o autor recordava um filme sobre um alemão que teria sido o maior falsário de quadros de todos os tempos. E comparava-o com outro falsário holandês, Van Meegeren.
Este, segundo o mesmo autor, usava uma metodologia perfeita, procurando telas, pigmentos e molduras de cada época. Nos quadros totalmente novos que pintava procurava seguir o “estilo e a mente dos copiados” de modo a que os especialistas pudessem reconhecer a “presença estilística e mental” de um determinado pintor consagrado.
Meegeren não apunha uma assinatura falsa do pintor a quem pretendia que os quadros fossem atribuídos. Deixava aos especialistas a tarefa de fazer a necessária comparação e eram estes que diziam que os quadros pelo “estilo e pela mente” tinham saído da mão do pintor que o falsário havia pretendido imitar.
O falsário do filme “acabou por ser traído por um químico presente numa tinta cuja marca se esqueceu de o incluir nos conteúdos”.
A propósito, o articulista reflete sobre algumas pertinentes questões. Uma delas é a seguinte: será que esta arte “falsa” terá menos valor artístico do que a verdadeira, quando é certo que alguns dos seus quadros foram considerados pelos especialistas como obras excecionais?.
A diferença reside apenas no facto de os quadros “plagiados” estarem associados a um nome que alcançou um grande prestígio. Por isso, atingiram um valor comercial elevadíssimo. É essa a razão pela qual o falsário procura imitá-lo por forma a que os especialistas confundam a autoria.
Este artigo trouxe-me à memória um episódio ocorrido numa viagem que fiz a Nice, uma linda cidade francesa, e me desloquei, em seguida, à vila de Antibes, perto de Cannes. Nesta vila, onde teria vivido um dos principais fundadores do cubismo, Pablo Picasso, foi fundado um pequeno museu com o seu nome, que também visitei. Durante a visita, a guia local, uma senhora com grande espírito de humor, contou-nos uma história.
Picasso sentiu necessidade de mandar fazer um armário para a sua casa. Chamou então um marceneiro a quem explicou o que pretendia que ele executasse. Para sua melhor compreensão, o marceneiro pediu-lhe que desenhasse o pretendido armário, ao que Picasso acedeu, traçando o esboço do armário num papel que tinha à mão. Depois perguntou ao marceneiro qual o preço que lhe iria cobrar pela obra. Com o papel em seu poder, o marceneiro, respondeu-lhe: se o Senhor assinar o papel, não lhe cobro nada.
Este episódio, seja ele verdadeiro ou pura imaginação, é muito elucidativo acerca do valor de certas assinaturas. Um simples papel onde foi desenhado um vulgar armário, sem qualquer preocupação de estilo, pode ser muito valioso se for subscrito por um pintor da estatura artística de Picasso.
A este mesmo grande pintor atribui o articulista a seguinte resposta que deu a uma pessoa que havia qualificado uma obra sua como sendo um simples risco: “sim, é só um risco, mas fui eu que o fiz”.